Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Diniz, o médico e o monstro

Fluminense mostra para o bem e para o mal o que o técnico busca na seleção

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Fernando Diniz saiu de Montevidéu na terça-feira (17) aborrecido porque a seleção brasileira jogou miseravelmente sem nada que lembrasse o futebol bonito pretendido por ele e pelo presidente da CBF.

Dois dias depois da sonolenta derrota no estádio Centenario, dirigiu o Fluminense contra o Corinthians, no Maracanã.

A mudança da monotonia para o eletrizante ficou patente.

"É claro", dirão a rara leitora e o raro leitor, "o time amarelo ele dirigiu apenas quatro vezes e com poucos treinamentos; o tricolor sabe de cor o que fazer".

Fernando Diniz dirige um elétrico Fluminense - Ricardo Moraes - 19.out.23/Reuters

Pausa para reflexão: de que valerá implantar na seleção o modelo de jogo do clube, e é improvável que consiga, se, em seguida, a equipe mudará de comando com Carlo Ancelotti?

Mudará mesmo?

A palavra de Ednaldo Rodrigues está dada, e o reitor da Universidade de Parma, na Itália, em aparente gafe, ao lhe conceder o título de Doutor Honoris Causa em Ciências e Técnicas de Atividades Motoras Preventivas, confirmou.

Rodrigues não é doutor, mas é baiano, onde burro nasce morto, e só se fosse muito estúpido correria o risco de tamanha desmoralização.

Voltemos a Diniz no papel de mau médico para os males da seleção e de monstro, no bom sentido, ao fazer do Fluminense uma delícia para os olhos.

O segundo tempo do time dele no empate em 3 a 3 com os corintianos teve tudo preconizado por sua visão do jogo, sem os defeitos apresentados na primeira metade da partida, quando Marcelo ajudou o adversário em dois gols e o assoprador de apito colaborou para mais um, noves fora o passe de Germán Cano para Yuri Alberto desperdiçar, na pequena área, o tento mais feito deste Campeonato Brasileiro —fruto de mais uma saidinha irresponsável.

Marcelo se redimiu por completo depois, o Fluminense apertou o Corinthians como torniquete sem dó nem piedade, e a vitória de virada deixou de acontecer apenas porque o futebol é cruel e o assoprador não quis marcar pênalti para os cariocas.

Diniz é o mesmo, e seus dois times nada têm a ver um com o outro.

Bons jogadores abundam em ambos, o Flu às vezes sobra, e a seleção se afoga.

O time da CBF tem as eliminatórias mais fáceis de sua longa história e o das Laranjeiras terá o Boca Juniors pela frente na decisão da Libertadores, no próximo dia 4 de novembro, sábado, às cinco em ponto da tarde.

Classificar a seleção é mera obrigação, e perder o título inédito na vida tricolor será uma tragédia.

Terá sido boa a decisão de Diniz em aceitar o duplo papel?

Concentrar toda atenção nos xeneizes não seria melhor que dispersá-la com bolivianos, uruguaios e colombianos, entre tantos outros hermanos?

Entre o bondoso Dr. Jekyll e o malvado Hyde, Diniz se arrisca a perder a fórmula mágica que lhe permite viver as duas figuras e, sem mais poder sepultar o monstro, enterrar também o médico.

O pior é que, nestas alturas do campeonato, Diniz não tem mais escolha.

Fernando Diniz tem encontrado problemas na seleção - Dante Fernandez - 14.out.23/AFP

TRISTE VATICÍNIO

No último 13 de agosto, aqui, escreveu-se sobre Neymar no Al Hilal: "O Sauditão ficará mais atraente, embora seja previsível que ele passe a viver mais no Brasil se recuperando de lesões, agora que parece ter desistido de vez da disputa por ser o número 1".

Não precisava ser tão grave, mesmo que venha a ser a solução da "Neymardependência" na seleção.

Corpos fisicamente mal preparados tendem a sofrer lesões sérias.

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