Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Juca Kfouri

Jogadores brasileiros de futebol são machos omissos e desorganizados

Silêncio em torno do caso Daniel Alves é ensurdecedor

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Já havia um caso de estrela internacional de nosso futebol condenada por estupro, o cínico Robinho, nove anos de cadeia em sentença da Justiça italiana que a brasileira tarda em cumprir.

Jamais se ouviu uma voz sequer de jogador que o criticasse, ao contrário, houve apenas confraternização de velhos parças com ele nas areias santistas em animadas disputas de futvôlei.

Como a esperança é sempre a última que morre, os otimistas imaginavam que se houvesse um segundo caso de craque condenado haveria alguma manifestação.

Pois houve, como se sabe, o de Daniel Alves, aquele que transcende o futebol, quatro anos e meio de prisão.

E o silêncio permanece ensurdecedor.

De que tipo de massa é feito o futebolista brasileiro?

Nenhum deles terá filha, irmã, mulher, tia, avó?

Nenhum deles terá mãe?

Sim, rara leitora e raro leitor: nossos jogadores são todos órfãos de mãe. Todos frutos de geração espontânea.

E machos paca!

Solidários até os tampos —com quem estupra.

Há até os que investem quase um milhão de reais para diminuir a pena do parça preso na Espanha.
Claro, Neymar é o nome dele, aliás, deles, filho e pai.

Sim, porque pais eles têm, só lhes faltou a doce figura da mãe.

Se as tivessem, imaginariam a cena de uma delas estuprada e se insurgiriam contra os estupradores.
Vai ver também não têm imaginação, só alienação.

Veem companheiros de profissão serem agredidos por malfeitores e aí o corporativismo cafajeste desaparece, permanece apenas o silêncio covarde.

Dez anos atrás, exatamente às vésperas de jogo do Corinthians contra a Ponte Preta, como neste domingo (25), o centro de treinamento corintiano foi invadido por cerca de cem meliantes, e os jogadores, encurralados.

Passadas as cenas de terror, o então zagueiro Paulo André propôs que o time se recusasse a ir para Campinas em protesto contra a selvageria e por desconfiar da cumplicidade da direção do clube.

Em vão. Nada se fez, nada mudou.

Isso num clube cujo ônibus já havia sido emboscado na Via Anchieta, em 1997, assim como o do São Paulo levou tiro, em 2021, no caminho para o Morumbi, ou o do Bahia foi atingido por explosivos em Salvador, há precisos dois anos.

Agora aconteceu no Recife com o ônibus do Fortaleza.

Precisa acontecer mais o quê?

Morrer um atleta?

Acredite, nem que morra nada acontecerá, além do enterro, eventual missa de sétimo dia e os jogos do fim de semana.

Porque nossos machos omissos são desorganizados, nem sequer sindicatos têm que possam assim ser chamados, todos controlados há décadas por pelegos acostumados com luxo e riqueza. Em regra, ex-jogadores do século passado, que os atuais mantêm sem dar bola para a situação.

Acredite, tamanha desumanidade em relação às vítimas dos estupros, e inação diante da violência, têm a ver com o mau desempenho recente das seleções brasileiras, porque a falta de caráter de todos pesa mais que o inegável talento de muitos.

E não se trata de cobrar coragem com pescoço alheio, porque temos visto jogadoras se posicionarem para progresso da modalidade que defendem.

Talvez por terem mães, algumas delas até já serem mães, outras sonharem em ser mães.
Dos machões espere alguma coisa.

Talvez doem uma smart TV para a cela de "Dani" Alves e comprem uma rede nova de futvôlei para Robinho.

Afinal, o que aquelas meninas foram fazer na boate?

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.