Nestes tempos intolerantes já fui mandado para Cuba, que não conheço, e para a Venezuela, destino que dispenso enquanto o ditador Nicolás Maduro lá estiver.
De Cuba o que mais gosto é a literatura de Leonardo Padura.
Já contei aqui que quando criança acordava em noite de Botafogo x Santos agradecia ter nascido no Brasil por poder ver Mané x Pelé —fora os coadjuvantes, se assim podiam ser chamados Nilton Santos, Didi e companhia, além de Carlos Alberto, Zito, Coutinho etc.
Pensava nos meninos paraguaios e tinha pena deles porque a grande atração do futebol local era o jogo entre Cerro Porteño e Olimpia.
E por mais que já existissem El Clasico Barcelona e Real Madrid, ou Liverpool x Manchester United, ou, ainda, Internazionale x Juventus, nada despertava inveja.
Os reis do futebol moravam e jogavam no Brasil.
Faz tempo que acordo e penso que adoraria viver na Inglaterra, em Londres, a menos de 400 quilômetros de Liverpool e de Manchester.
Porque é lá que estão os melhores do mundo.
O que se viu nesse domingo (17), no velho Old Trafford, o Teatro dos Sonhos, extrapolou o sonho para se transformar em magia e fazer de 120 minutos de futebol uma experiência estética e emocional inigualável: sete gols, 53 finalizações, 28 delas do vencedor Manchester United por 4 a 3, na prorrogação, é claro, contra 25 do vencedor Liverpool.
(Atenção revisão: não há perdedor num jogo desses).
Com o que o United disputará a semifinal da Copa da Inglaterra, contra o Coventry City, em Wembley, dia 20 ou 21 de abril, em mais uma razão para esperar quando abril vier…
O clássico mais tradicional do Reino Unido teve tudo o que um jogo de futebol pode ter, com requintes de basquete, por ser ou não ser decidido na última bola.
Os anfitriões saíram na frente do superior time de Jürgen Klopp e Mohamed Salah.
Tiveram a chance do 2 a 0 e tomaram a virada nos momentos derradeiros do primeiro tempo.
Mais chances tiveram os Reds no segundo tempo para liquidar os rivais com o 3 a 1 que seria definitivo, mas permitiram que o brasileiro Antony, vindo do banco, empatasse 2 a 2 e que Rashford, no último segundo do tempo normal, desperdiçasse o gol mais feito dos 90 minutos iniciais.
O goleador inglês estava destinado a ser o grande vilão.
Os visitantes marcaram o 3 a 2 no primeiro tempo da prorrogação e parecia impossível que ainda houvesse maiores emoções depois de tantas defesas importantes dos dois goleiros, até de bola na trave do camaronês Onana, do United, vítima de dois gols em bolas desviadas na zaga.
Só parecia.
Porque Hasford empatou 3 a 3 aos 112 minutos e de alguma maneira se redimia caso a vitória final sorrisse.
E porque veio do banco um menino costa-martinense chamado Amad Diallo, 21 anos. Ele fez o diabo a quatro no gramado do santuário.
Não contente, fez também o 4 a 3, aos 120 minutos, com lance épico —ao ganhar a dividida em sua intermediária, entregar para o argentino Garnacho, ainda dois anos mais jovem, receber na frente e decretar a revirada da virada dos Reds de Liverpool, um milímetro menos vermelhos ontem que os Red Devils de Manchester.
Sim, entre Havana, Caracas e Londres não cabe dúvida para onde ir quem é apaixonado por futebol e luta por qualidade de vida, apesar de todos os pesares das seculares disparidades sociais inglesas.
Vivam os Reds!
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