Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri
Descrição de chapéu basquete

A manipulação ainda nem começou

Escândalos de fraudes em resultados se repetirão para destruir credibilidades

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Jontay Porter, pivô do Toronto Raptors, da milionária NBA, está sob suspeita depois que sobre ele, em dois jogos, recaiu a dúvida se foi cúmplice de apostadores.

A denúncia veio de casas de apostas que identificaram "atividades incomuns" no comportamento do jogador, o que proporcionou o maior volume de prêmios aos que fizeram fé em que ele não chutaria nenhuma bola de três pontos, embora faça parte de seus hábitos chutá-las. Nos dois jogos, ele pediu para sair ao alegar lesão e mal-estar.

Jontay Porter (de branco) em partida do Toronto Raptors contra o Detroit Pistons - Rick Osentoski/USA Today Sports via Reuters

Já o craque Jayson Tatum, do Boston Celtics, em entrevista, disse que as apostas mudaram o panorama dos esportes: "É um negócio de doido. Você vê pessoas nas redes sociais discutindo com jogadores. Elas culpam você por ter perdido o dinheiro delas. Ficam bravas porque você não fez 25 pontos antes do intervalo, ou acertou mais que duas bolas de três. Já chegou em mim e dá a medida de como as coisas mudaram".

Jayson Tatum em lance do Boston Celtics contra o Charlotte Hornets - Jacob Kupferman/Getty Images via AFP

Pior vem acontecendo com o treinador do Cleveland Cavaliers, JB Bickerstaff: "É muito louco. Há pouco tempo, estava sendo ameaçado por apostadores, dia sim, dia não. Não sei como aconteceu, mas conseguiram meu número de telefone e me ligavam direto. Eles falavam que sabiam qual era o meu endereço, sobre os meus filhos e queriam gerar pânico. Então, acho que é uma questão muito mais complexa do que parece. É uma linha tênue na qual estamos começando a caminhar", afirmou.

Sim, de fato. Linha tênue e, embora por contraditório que pareça, escancarada.

O técnico do Cleveland Cavaliers, JB Bickerstaff - Stephen Lew/USA Today Sports via Reuters

Embora os participantes da NBA sejam proibidos de apostar, o que se vê é o óbvio incontrolável e "infiscalizável".

Tempos atrás, Lucas Paquetá quase jogou a carreira no lixo por aparentemente ter participado de brincadeira com parentes que resultou em escândalo, pois ele teria forçado um cartão amarelo para que pessoas próximas ganhassem na jogatina.

Por isso, sob investigação, perdeu três convocações da seleção brasileira e um contrato com o Manchester City.

As casas de apostas proliferam, jogadores em atividade no Brasil participam de campanhas publicitárias, comunicadores fazem a festa e pronto! Estamos diante de tsunami inadministrável, com o perdão da redundância.

A desconfiança é tal que permite a John Textor, o dono do Botafogo, ir buscar no submundo a explicação para o fiasco de seu time em 2023.

Sem provas, feito um doidivanas, se desmoraliza com sua investigação à base de inteligência artificial.

Ora, se tem provas, mostre e dê a cara a bater, como demos na revista Placar, em 1982, ao denunciar a Máfia da Loteria, como a TV Globo deu ao revelar o caso Yves Mendes e como a Veja fez ao explodir a Máfia do Apito.

O primeiro e o terceiro casos ligados à jogatina; a primeira, legal, a segunda ilegal.

Ninguém é ingênuo: proibir a jogatina é pior e só a tornaria clandestina.

Ao menos se regulamentou no Brasil, mas poderia haver um pouco mais de discrição, a proibição de quem participa do esporte não poder virar garoto-propaganda.

Ou talvez não. Publicizar a desfaçatez sem hipocrisia pode ser mesmo o melhor caminho.

Porque como dizia o imortal Stanislaw Ponte Preta, "Restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos!".

De uma coisa a rara leitora e o raro leitor podem ter certeza: os escândalos estão só começando.

Melhor a roleta viciada que o futebol jogado às traças, sob desconfiança a cada erro.

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