Juliano Spyer

Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros

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Juliano Spyer
Descrição de chapéu CPI do 8 de janeiro

Eliziane colocou Feliciano em curto circuito: 'Fariseu hipócrita'

Senadora fala com 'evangélicos raiz' da base eleitoral de Feliciano

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"Sabe o que Jesus falou para os escribas e fariseus que usavam a Bíblia [como o senhor usa]?", perguntou a senadora Eliziane Gama ao deputado Marco Feliciano. "Jesus disse: ‘Ai de vocês, mestres da lei, fariseus hipócritas! Vocês se assemelham a sepulcros caiados, belos por fora, mas internamente repletos de ossos e de toda sorte de impureza’."

A senadora, relatora da CPMI do 8 de Janeiro, referia-se ao que aconteceu durante um encontro a portas fechadas, em que Feliciano teria gritado e batido na mesa ao se dirigir a ela.

Clipes com a fala de Eliziane viralizaram em grupos de WhatsApp evangélicos. "A maior parte dos participantes desses grupos ficou em silêncio", diz o pastor Alexandre Gonçalves, pentecostal e ligado ao PDT. "Os que se manifestaram, disseram que a senadora se expressou de forma respeitosa e que era bom que Feliciano escutasse."

Feliciano não é uma unanimidade entre evangélicos. Ele começou como um pregador carismático que viajava o país, mas muitos percebem, hoje, que o envolvimento dele com a política o contaminou de forma negativa. "Ele tem sido muito extremista, trata mal as mulheres, e a senadora colocou para fora o que muita gente queria falar: que é hora de a gente começar a distinguir entre alguns evangélicos no Congresso," analisa o pastor de uma igreja Assembleia de Deus na periferia de Brasília.

Feliciano se projetou na política em 2013 sob o ataque de jornais. "A imprensa imaginou tê-lo derrotado ao expor que um pastor(!) poderia ficar à frente da Comissão dos Direitos Humanos no Congresso," relata um jornalista evangélico, que nasceu na Assembleia de Deus e pede para não ser identificado. "Essa postura mostrou um certo nojo da elite de prestígio em relação aos evangélicos (…). Feliciano ganhou força e legitimidade porque passou a ser visto como perseguido, tal como José foi perseguido no Egito."

Feliciano domina o púlpito como poucos e manda suas mensagens a partir da imprensa, usando uma codificação que a imprensa não consegue captar. Mas observadores evangélicos do campo conservador reconhecem que Feliciano teve mais prejuízo no embate. "A reação dela não ‘pareceu’ ideológica, não soa como alguém progressista. Ela demonstra entendimento e respeito à autoridade religiosa. E isso muda o jogo, porque ela fala como o cristão comum confrontando um pastor que faz alguma coisa errada," avalia o pastor Guilherme de Carvalho, que era da equipe de Damares Alves no governo passado.

Mas esse episódio marcante será esquecido logo. A menos que o governo atual entenda ser vantajoso fortalecer aliados que são "evangélicos raiz" e falam a língua dos milhões de evangélicos pentecostais que, hoje, rejeitam a esquerda.

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