Juliano Spyer

Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros

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Juliano Spyer

Aliança entre Bolsonaro e evangélicos sobrevive

Masculinidade e WhatsApp sustentam o feitiço do ex-presidente

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A Polícia Federal costuma recorrer ao humor sarcástico para nomear suas operações. Seria esse o caso da "Lucas 12:2", que investiga suposto esquema de venda ilegal de joias e objetos de Jair Bolsonaro nos EUA?

Intencional ou não, o nome da operação traz em si potencial para viralizar nas redes sociais entre os milhões de evangélicos. A linguagem bíblica aproxima simbolicamente o caso investigado da liderança cristã que mobilizou fieis, transformou púlpito em palanque, profetizou a vitória do ex-presidente, repreendeu ou expulsou quem discordava e fez contorcionismo teológico para compatibilizar o gesto da arminha com a mensagem de Jesus.

Apesar do provocativo nome, o site Fuxico Gospel, conhecido por noticiar escândalos no mundo evangélico, não havia mencionado a operação até a manhã desta segunda (14). Mas o mesmo não pode ser dito da imprensa secular, que "evangelizou" seu público sobre a passagem bíblica em Lucas 12:2, que diz: "Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido".

Cristãos desigrejados por causa de tensões políticas em 2022 também se manifestaram nas redes. "O pessoal não está refletindo, está apenas rindo", relata o sociólogo Leonardo Rossatto, membro de uma dessas comunidades. Em suas redes sociais, a notícia circula com comentários como: "Olha o nome da operação kkkkk" ou "Eita, como ele é honesto", referindo-se Bolsonaro.

Silvinei Vasques, ex-diretor da PRF, desembarca de avião da PF em Brasília após ser preso em Florianópolis - Pedro Ladeira - 9.ago.23/Folhapress

Comentaristas do campo evangélico explicam de modo semelhante o envolvimento das principais igrejas nas campanhas do ex-presidente. Para eles, líderes influentes receberam, do Planalto e pela primeira vez, tratamento VIP. Viajaram no avião presidencial, postaram selfies com empresários e celebridades e ganharam milhões de seguidores nas redes. É, portanto, uma união mundana, sem inspiração religiosa.

Contudo, a exposição de possíveis crimes de Bolsonaro não garante que o eleitor cristão se arrependa e mude suas escolhas. Os EUA têm sido um espelho do Brasil no campo político, especialmente pela importância eleitoral de evangélicos. E, de olho nas eleições de 2024, o New York Times divulgou dados de junho indicando que a maioria dos evangélicos brancos (56%) segue apoiando Donald Trump. E 76% deles afirmam não acreditar que o ex-presidente tenha cometido algum crime federal.

"Há um encantamento, quase um feitiço, em torno dele," comentou um interlocutor sobre o vínculo de evangélicos com Trump. Entre os componentes dessa "magia" estão a masculinidade agressiva, presente em Trump e em Bolsonaro, e a comunicação. O governo mudou, mas o ex-presidente continua com sua bandeira hasteada nos territórios do WhatsApp e do Telegram.

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