Juliano Spyer

Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros

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A inteligência artificial é um novo Deus?

A religião pode salvar a humanidade dos riscos da inteligência artificial, diz professor de Oxford

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"Alguém afirmou recentemente que, ao desenvolver (projetos de inteligência artificial), nós estamos evocando o demônio", mencionou o matemático e filósofo da ciência John Lennox, professor emérito na Universidade de Oxford, em entrevista.


Lennox é evangélico e ganhou destaque para além de seus campos de estudo ao debater religião com cientistas ateus, incluindo seu colega de universidade, o biólogo Richard Dawkins. Seu último livro, intitulado em referência à famosa distopia "1984", é "2084: inteligência artificial e o futuro da humanidade" (em tradução livre).

Lennox critica a ideia de que a religião é contrária à ciência e vice-versa. "É muito fácil dizer que as ciências naturais são limitadas, na medida em que não respondem a perguntas simples que uma criança faz, como: de onde nós viemos? E qual é o significado da existência?", ele diz. "A ciência desmonta as coisas para entender como funcionam e, suponho, para entender do que são feitas. A religião as reúne para ver o que significam."

O filósofo John Lennox
O filósofo John Lennox - YouTube

Um dos argumentos do livro "2084" é que a ciência está se transformando em religião. "A ciência é maravilhosa", ele argumenta, "mas ela está limitada às perguntas que pode responder... Infelizmente, nos últimos anos, vem se desenvolvendo uma crença na ciência que chamamos de ‘cientismo’. Nele, a ciência é vista como o único caminho para a verdade e todo o resto é considerado contos de fadas."

Lennox chama a atenção, por exemplo, para como a falta de referência moral afeta negativamente o desenvolvimento científico. Ele cita o trabalho do filósofo Nick Bostrom, que fundou o Instituto do Futuro da Universidade de Oxford. Para Bostrom, aliviar a pobreza global não deve ser uma prioridade porque, apesar de essas ações produzirem uma sensação de bem-estar, elas não são eficientes. "Isso é devastador", diz Lennox, "porque é uma negação completa do princípio moral altruísta fundamental".

Lennox enfatiza o significado da palavra "artificial" no termo "inteligência artificial" como algo que não é verdadeiro. Inteligência artificial seria o mesmo que inteligência falsa porque, ele argumenta, não existe inteligência sem consciência. "Como poderíamos dizer que um computador terá consciência se não temos ideia do que a consciência é? Ninguém com quem eu conversei ou li tem a menor ideia do que seja a consciência."

É intrigante observar um evangélico como Lennox denunciar o quanto a superstição e a crença podem influenciar a ciência. E observar ainda como o campo religioso é complexo e pode ser erudito, apesar da atitude voluntária ou involuntária de quem defende a ciência de apresentar religiosos apenas como negacionistas ou terraplanistas.

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