Katia Rubio

Professora da USP, jornalista e psicóloga, é autora de "Atletas Olímpicos Brasileiros"

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Katia Rubio

Resolução de ano novo

A página em branco de 2020 apenas começa a ser preenchida

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Acredito que muita gente se faça a pergunta: Por que um ano tem 365 dias? Por que o dia tem 24 horas? Por que os Jogos Olímpicos acontecem de 4 em 4 anos?  

Uma resposta possível é porque os seres humanos precisam atribuir significado a coisas que aparentemente não são explicáveis. E assim é possível entender por que surgiram as utopias, as religiões, os rituais em diferentes partes do mundo, em distintos idiomas, ao longo desses milhares de anos que marcam a existência humana no planeta. 

O ano novo, por exemplo. Por que tanta comoção pelo fim de um dia e começo de outro? Em parte do mundo estamos prestes a finalizar o ano 2019 depois do nascimento de Cristo. E isso porque um papa assim o determinou depois de alguns ajustes ao longo dos séculos. E há quem pense que essa é uma verdade absoluta. Mas, há outros tantos calendários que têm o início dos tempos marcados por outras efemérides. Isso indica claramente que o mundo é múltiplo, ainda que haja uma determinação para fazer prevalecer o ponto de vista de quem detém a força.

Os arcos olímpicos em Tóquio, cidade que sediará a edição de 2020 dos Jogos
Os arcos olímpicos em Tóquio, cidade que sediará a edição de 2020 dos Jogos - Issei Kato - 5.ago.2019/REUTERS

Ano novo é tempo de fazer planos. Dizem que costumamos fazer isso porque fica fácil encher um pote que está vazio... Lembro-me de uma história do Tio Patinhas de quando era criança e das resoluções de ano novo do velhinho milionário. Claro que para ele todas as suas resoluções giravam em torno de maior acumulação e exploração de seus sobrinhos. E por parte deles as resoluções diziam respeito a sobreviver em meio toda a construção de um tio avarento. Aquela história ficou em minha lembrança talvez por ver, em minha própria família, toda a mobilização para uma festa que começava no dia 31 de dezembro: roupas novas, muita comida e a oportunidade de reunir os próximos e os mais distantes. E no dia 1º parte de tudo aquilo já acabava, exceto a comida produzida em quantidade desproporcional para uma festa que durava tão pouco. E dali para frente eram outros 300 e tantos dias absolutamente parecidos com outros que já se passaram.

Então, seguindo a tradição, vamos às resoluções. 

A primeira delas é que em ano de Jogos Olímpicos minha atenção continuará a ser dedicada a história de pessoas, aquelas esquecidas ao longo de três anos e meio, e não apenas de seus resultados. Isso significa humanizar mulheres e homens que dedicam suas vidas ao esporte, tirando-os da condição de estrelas temporárias.

A segunda diz respeito ao esforço em tratar o esporte como um fenômeno que envolve cultura e educação. Em 2020 será preciso muito trabalho para que essa condição não se perca, nem se esqueça. Quem sabe assim se cumpra a condição de bem inalienável garantido pela Constituição.

A terceira é não desligar o rádio até aquela música maravilhosa acabar de tocar, nem passar batido diante do sol que se põe tingindo as nuvens de laranja e púrpura. Incluo aqui atentar a todos os cães que me sorrirem com o rabo ou aos felinos que me ronronarem.

Outros projetos ainda podem ser incluídos nessas resoluções, posto que a página em branco de 2020 apenas começa a ser preenchida. E como escreveu Marcio Borges, “outros outubros virão, outras manhãs, plenas de sol e de luz...”

Enfim. Os dias especiais marcam as nossas vidas porque eles estabelecem parâmetros para novos acontecimentos e outros momentos da nossa existência. E assim deixamos apenas de ser levados para também alterar o curso de nossa trajetória impondo os nossos próprios desejos e vontades. E é esse movimento que nos torna protagonistas da história e da sociedade em que vivemos. E é por isso que nada será como antes.

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