Quem me conhece sabe que sou uma pessoa otimista. Ser otimista não significa sofrer de síndrome de Poliana. Essa personagem desenvolveu o "jogo do contente", que consiste em extrair algo de bom e positivo em tudo, mesmo nas coisas aparentemente mais desagradáveis.
Visto pela ótica da psicologia, a negação pode ser entendida como um mecanismo de defesa do inconsciente, que visa proteger da dor a pessoa que não quer lidar com um desejo, uma fantasia, um pensamento ou sentimento.
É importante destacar que o processo de negação inconsciente não é o mesmo que negar deliberadamente uma informação ou situação. Isso se chama negacionismo.
E o negacionista é aquela pessoa irritante que, mesmo diante das evidências mais concretas, faz questão de construir um argumento mirabolante para edificar a sua tese.
Não nego o poder criativo dessa gente. É risível a forma como é feita a defesa de um remédio sem função, da dispensa de um equipamento de segurança ou da desqualificação de um profissional.
O negacionismo prolifera onde abunda a ignorância. Que lamento constatar a abrangência do apedeutismo nesse país que já foi cantado como tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza.
O obscurantismo que acompanhou o desenrolar da pandemia no Brasil levou à catástrofe, como previram cientistas renomados. Tomados como arautos do apocalipse, petistas, comunistas, vermelhos, eles foram negados. Os argumentos fundamentados poderiam ter evitado a calamidade que vivemos no presente com a organização de ações que evitassem a superlotação de hospitais e unidades de saúde.
Como em “Crônica de Uma Morte Anunciada”, todos conheciam o final da história. Poucos com poder de ação se mobilizaram, de fato, para evitar o pior. E a vida seguiu como se a desgraça fosse uma ficção indesejada. Famílias fizeram festas e convidaram os amigos. Centros comerciais cheios de pessoas entediadas buscando lazer.
Trabalhadores obrigados a manter suas rotinas de trabalho, porque “a economia não pode parar”, foram expostos à contaminação. E o esporte, com os mesmos argumentos construídos pelos negacionistas, seguiu como atividade essencial. Em alguns lugares foi proibido por decreto e não por consciência dos dirigentes e corpo técnico.
Nessa última semana ocorreu a Copa do Mundo de esgrima em Budapeste, na Hungria. A imprensa europeia divulgou que após o final da competição foram confirmados cerca de 30 casos de contágio entre atletas, membros da equipe técnica e classe de árbitros. E como o vírus não é xenófobo, ele atacou alemães, italianos, japoneses, gregos e também franceses.
Anteriormente, na mesma modalidade, os brasileiros Alexandre Teixeira (técnico) e Bia Bulcão (do florete) já haviam sido infectados num estágio de treinamento em Portugal. A Confederação Brasileira de Esgrima não confirma essa informação.
Não faltaram medidas de segurança com controle rigoroso de todos os participantes da Copa do Mundo, a utilização das chamadas bolhas para isolar as delegações e procedimentos individuais adotados desde os países de origem. E aí as diferenças ficam evidentes: há países e atletas que seguem os protocolos ditados pela ciência; e há outros que seguem o negacionismo colocando em risco aqueles que fazem adequadamente a lição de casa.
O resultado não poderia ser outro. O espetáculo esportivo foi garantido com disputas espetaculares para regozijo da estrutura esportiva. No aspecto sanitário foi mais um desastre que colocou em risco a vida de todos os envolvidos.
Outras competições estão sendo realizadas mundo afora com o mesmo resultado: 7 para as competições x 0 para a segurança. Estarão os dirigentes olímpicos cientes disso? Não é preciso esperar novas contaminações para se responder a essa questão.
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