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China deverá esperar para estabelecer relações diplomáticas com Honduras

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​Dardo Justino Rodríguez

Analista, comunicador e consultor independente para organizações e agências internacionais

Poucos dias antes das eleições gerais de Honduras, uma delegação estadunidense de visita ao país foi direta e pouco diplomática em suas mensagens aos dois principais candidatos presidenciais, a então vitoriosa Xiomara Castro, do Partido Livre, e o prefeito da capital, Nasry Asfura, do até então governante Partido Nacional.

Em suas reuniões, a comitiva, liderada por Brian Nichols, subsecretário de Estado para o Hemisfério Ocidental, deixou claro que Washington quer que o país mantenha suas relações diplomáticas com Taiwan.

Xiomara Castro, presidente eleita de Honduras, em cerimônia em dezembro do ano passado - Fredy Rodrigues/Reuters

Washington e Pequim na região centro-americana

Desde os tempos de Nixon, os Estados Unidos reconhecem a República Popular da China como representante de Taiwan, do povo chinês, mas como os projetos de poder só respondem aos seus próprios interesses, não é questão de dar mais poder ao inimigo, permitindo relações profanas.

Um porta-voz oficioso do Departamento de Estado, que solicitou anonimato, disse que Washington advertiu as nações centro-americanas de "alguns dos riscos associados à abordagem da China à região". Com um Asfura triunfante, não teriam surgido nem mesmo suspeitas de aproximação com a China Continental, mas como o candidato do partido de direita sofreu uma derrota esmagadora, as coisas ficaram complicadas.

O plano de 30 pontos para os primeiros cem dias do novo governo, que a equipe de Xiomara elaborou, indica com precisão no ponto seis que "abrirei de imediato as relações diplomáticas e comerciais com a China Continental".

Antes das eleições, no entanto, o então candidato a vice-presidente, Salvador Nasralla, expressou que esse era um tema a ser acordado e que não era considerado de caráter urgente. Após as eleições, em termos semelhantes, o deputado eleito Hugo Noé Pino, um respeitado economista, co-fundador do Partido da Liberdade e Refundação (Libre), se pronunciou.

Assim, por enquanto, Washington pode esperar que Honduras não mude sua postura sobre Taiwan, mas a situação poderia se alterar em um futuro mais ou menos próximo. Deve-se considerar que empresas da China Continental têm presença no país, construindo diversas obras públicas, como a hidrelétrica Patuca 3. A China, de fato, embora com baixo nível, já tem um pé em Honduras.

Cabe assinalar que Honduras é um dos poucos países do mundo que mantém relações diplomáticas com Taiwan, uma lista que encolhe quase periodicamente. Recentemente, a Nicarágua cortou seus laços de longa data com a ilha para voltar-se para a China.

Em Washington, a crescente influência chinesa é vista com alarme, tanto no campo econômico quanto no político-diplomático, em uma região em que os Estados Unidos sempre tiveram influência decisiva. O porta-voz do Departamento de Estado disse à agência Reuters que "temos sido bastante claros com todos os atores chave em Honduras porque cremos que a relação entre Honduras e Taiwan é muito importante. Gostaríamos que isso continuasse".

O Triângulo Norte da América Central

Nos últimos tempos, os Estados Unidos não se saíram muito bem na estratégica região centro-americana, conhecida como Triângulo Norte, integrada por Honduras, Guatemala e El Salvador. O presidente guatemalteco Giammattei tem atitudes que nem sempre respondem aos interesses de Washington. E nem falamos do rebelde e errático salvadorenho Nayib Bukele.

Até agora, Washington tinha a lealdade interessada e temerosa do hondurenho Juan Orlando Hernández, mas ele sai e deixa na cadeira presidencial ninguém menos que a esposa de Mel Zelaya, que foi derrubado em 2009 com a aprovação da então administração Obama.

As preocupações com a China estão se intensificando na Casa Branca e no Pentágono, que definiu esses três países como a cerca vermelha que Pequim não deve cruzar em sua estratégia de influência e na instalação de infraestrutura civil para possível uso militar.

De acordo com a revista especializada Military Times, Washington pressiona fortemente os governos da região para não permitir que seus territórios hospedem instalações da China que possam ser para uso civil e militar, como a base espacial localizada na província argentina de Neuquén, que tem escassa supervisão do Estado nacional.

Outra, mais preocupante para o Pentágono, é a permissão concedida pela Nicarágua à empresa Xinwei Telecom Enterprise Group para levantar redes de telecomunicações. Na época, o canal interoceânico era outra causa de alarme, mas, como previsto pelos especialistas, nunca pôde ser concretizado pela inviabilidade estrutural e financeira.

Uzra Zeya, subsecretária de Estado para a Democracia e os Direitos Humanos, enviada pelo governo Biden a Honduras para manter conversações com a presidente eleita Xiomara Castro. - Alex Wong/AFP

Honduras e as relações com a China

Tal é o interesse de Washington em impedir o estabelecimento das relações de Honduras com a China que, após as eleições, enviou a subsecretária de Estado para a Democracia e os Direitos Humanos, Uzra Zeya, para manter conversações com as atuais autoridades e com a presidente eleita Xiomara Castro.

Cabe assinalar que a equipe de trabalho do Partido Livre tem feito representações por alguns meses para altos funcionários dos EUA para tranquilizar os ânimos. O novo governo não se concentrará em ações conflitantes, porque tem muito com a herança que recebe.

Portanto, suas ações serão voltadas principalmente ao combate à corrupção e para melhorar a economia. Dois pontos essenciais que são bem recebidos em Washington, porque são as causas mais importantes das emigrações em massa e descontroladas. Neste contexto, as relações com a China passam ao segundo plano e, por enquanto, provavelmente não serão tratadas.

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