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O fascismo triunfará nas eleições brasileiras?

Bolsonaro é uma espécie de mini-Trump, e esse é o perigo que a democracia no Brasil enfrenta

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Federico Finchelstein

Professor de história na New School, em Nova York, e doutor pela Universidade Cornell. É autor de obras sobre fascismo, populismo, ditaduras e o Holocausto

O ex-presidente dos EUA Donald Trump endossou oficialmente Jair Bolsonaro em sua tentativa de reeleição.

Em um marco de crise econômica e desgosto geral com o extremismo do presidente brasileiro, o candidato rival, o ex-presidente Lula, lidera as pesquisas.

Nesse contexto, até que ponto um elogio de Trump pode servir a Bolsonaro?

Trump explicou que o "Trump tropical" fez um grande trabalho para "o maravilhoso povo do Brasil". "O presidente Bolsonaro ama o Brasil acima de tudo", escreveu Trump. "É um homem maravilhoso e tem meu total e completo apoio!"

Pessoalmente, o amor é recíproco. Bolsonaro chegou a dizer que ama Trump, mas é importante pensar na centralidade do culto ao líder e na expectativa de obediência total dos seguidores.

De pé e sorrindo, o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aponta para Jair Bolsonaro, que está a seu lado, durante encontro em Palm Beach, na Flórida; ao lado de Trump há uma bandeira dos Estados Unidos e ao lado de Bolsonaro há uma bandeira do Brasil
O então presidente dos EUA, Donald Trump, encontra-se com Jair Bolsonaro em Palm Beach (Flórida) - Tom Brenner - 7.mar.2020/Reuters

Esse tipo de relação não é infrequente entre os fascistas e os aspirantes a fascistas. Em 1923, Adolf Hitler disse: "Se um Mussolini alemão fosse entregue para a Alemanha, o povo se ajoelharia e o adoraria mais do que Mussolini o fez".

Bolsonaro também concorda em fazer do machismo vulgar e exacerbado um tema central de campanha.

Por exemplo, assim como Trump havia feito na campanha de 2016, Bolsonaro recentemente elogiou sua potência sexual para apresentar sua idoneidade como candidato.

Faz sentido que um presidente investigado pela Justiça, que fracassou no manejo da pandemia e que foi rejeitado pela maioria dos eleitores e depois mentiu e continua mentindo sobre o resultado da eleição, apoie um colega que apresenta exatamente essas características.

Pior ainda, Trump apoiou a tomada do Parlamento em seu nome em 6 de janeiro de 2021, a partir da grande mentira de que haviam roubado as eleições. A finalidade dessa mobilização era manter Trump de forma permanente no poder apesar do resultado da eleição.

É nesse ponto e nas repetidas ameaças de que, se perder, Bolsonaro não reconhecerá os resultados das eleições, que é possível um perigo fascista para o Brasil.

O mundo atual vive uma transformação profunda: uma tentativa de retorno do populismo ao fascismo.

Durante o século passado, o fascismo evoluiu, os líderes reformularam seu aspecto. Enquanto o fascismo explícito desapareceu do poder depois da Segunda Guerra Mundial, suas ideias antidemocráticas sobreviveram, muitas vezes entrelaçadas com várias correntes do populismo.

Apesar de sua falta de originalidade, Bolsonaro destaca-se entre os líderes autoritários contemporâneos por estar, como Trump, mais próximo do fascismo do que outros populistas.

Há quatro elementos que diferenciam o fascismo do populismo. Eles são pilares fundamentais que o fascismo tem e o populismo, não.

O primeiro é a violência e a militarização da política. Isso ocorreu na Espanha na Guerra Civil e também na Itália fascista e na Alemanha hitleriana. Todos exemplos catastróficos de problemas políticos sendo resolvidos por meio da violência.

O segundo é a mentira, a mentira totalitária, extrema, que não só distorce a realidade e cria realidades alternativas na mente das pessoas mas que tenta criar essa nova realidade.

O terceiro é a xenofobia, o racismo, a demonização total do inimigo interno imaginado. Qualquer problema que exista (real ou inventado) é explicado e resolvido por intermédio do ódio ao que é diferente.

E o quarto é a ditadura. Não há fascismo sem ditadura, embora possa haver uma ditadura sem fascismo.

Historicamente, os populistas foram eleitos, como Juan Perón, Getúlio Vargas, Hugo Chávez, Cristina Kirchner ou Silvio Berlusconi. Todos eles, apesar de seu autoritarismo, reconheceram a legitimidade das eleições, mesmo quando se saíram mal nelas.

Qualquer observador da política do Brasil pode notar que para Bolsonaro, um profundo admirador de ditaduras e ditadores, falta, na prática, o quarto elemento (a ditadura) para se tornar um fascista de fato e direito.

Em seu discurso no Dia da Independência, e isso não é irrelevante, Bolsonaro classificou o outro lado como "o mal".

As palavras do presidente foram as seguintes: "O mal que durou 14 anos em nosso país, que quase rompeu nossa pátria e quer voltar ao local do crime. Não o farão, as pessoas estão do lado do bem".

Esse argumento apocalíptico lhe permitiria justificar um golpe de Estado em nome do "bem"?

Como Trump, Bolsonaro representa um novo tipo de governante autocrático global que é eleito legalmente, mas também adota elementos que figuras populistas como Perón consideravam muito controversos ou mesmo tóxicos: mentiras totalitárias, racismo e meios ilegais como golpes de Estado para destruir a democracia a partir de dentro.

Trump poderia ser mais bem considerado um "aspirante a fascista". Trump é um populista que aspira a retornar a uma forma de fascismo. Seu governo não foi um fascismo completo porque não descendeu à ditadura. Mas poderia ter sido se suas tentativas de reter o poder após as eleições de 2020 tivessem sido exitosas.

Esse é o perigo que a democracia brasileira enfrenta. Bolsonaro é uma espécie de mini-Trump.

O "Trump tropical" não só compartilha os fracassados desejos fascistas de Trump mas também segue o modelo trumpista de destruir a democracia a partir de dentro.

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