Bolsonaro repete ameaças, pede voto e usa Michelle em fala machista na Esplanada

Presidente discursa a milhares de apoiadores em Brasília após acompanhar desfile militar no 7 de Setembro

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Brasília

Diante de milhares de apoiadores na Esplanada dos Ministérios, o presidente Jair Bolsonaro (PL) discursou em tom de ameaça contra outros Poderes nesta quarta-feira no 7 de Setembro de Brasília, com citação crítica ao STF (Supremo Tribunal Federal) e elogios à primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

A fala em tom eleitoral e com pedido de votos, com uso de Michelle ao seu lado, ocorre no momento em que enfrenta dificuldade para impulsionar sua popularidade entre eleitoras. Bolsonaro está em segundo lugar nas pesquisas, atrás do ex-presidente Lula (PT) nas simulações de primeiro e de segundo turno.

Bolsonaro utilizou um caminhão de som bancado por apoiadores e estacionado na Esplanada dos Ministérios ao lado de onde minutos antes acompanhou o desfile militar.

O presidente Jair Bolsonaro em ato político na Esplanada dos Ministérios
O presidente Jair Bolsonaro em ato político na Esplanada dos Ministérios - Gabriela Biló/Folhapress

Com tom machista, entoou gritos de "imbrochável" e ensaiou fazer uma comparação com outras primeiras-damas, mas não fez nenhuma citação direta à socióloga Rosângela da Silva, a Janja, mulher de Lula, que tem sido um contraponto a Michelle na busca pelo voto feminino nas eleições.

"A vontade do povo se fará presente no próximo dia 2 de outubro, vamos todos votar, vamos convencer aquelas pessoas que pensam diferente de nós, vamos convencê-los do que é melhor para o nosso Brasil. Podemos dar várias comparações, até entre as primeiras damas. Ao meu lado, uma mulher de Deus e ativa na minha vida. Ao meu lado não, muitas vezes ela está é na minha frente."

"Tenho falado com homens que estão solteiros: procure uma mulher, uma princesa, se casem com ela, para serem mais felizes ainda", acrescentou.

Veja os públicos no 7 de Setembro de 2022 e de 2021 em Brasília

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Imagens, de 2022 e 2021, mostram tamanho da audiência dos atos em apoio a Bolsonaro no 07/09 - Divulgação/2022 e Pedro Ladeira - 7.set.21/Folhapress

Antes de Bolsonaro, Michelle também discursou e repetiu o espírito da fala do presidente na defesa da "família e da liberdade". "Não estamos aqui por poder, muito menos por status. Estamos aqui para cumprir um chamado", afirmou. "O inimigo não vai vencer", disse Michelle.

Bolsonaro voltou a dizer que a eleição é a luta do bem contra o mal e usou outra vez um tom de ameaças. "Podem ter certeza, é obrigação de todos jogar dentro das quatro linhas da Constituição. Com uma reeleição, traremos para dentro das quatro linhas todos aqueles que ousam ficar fora delas."

O chefe do Executivo também usou tom crítico ao mencionar o STF. "O conhecimento também liberta. Hoje todos sabem quem é o Poder Executivo. Hoje todos sabem o que é Câmara dos Deputados. Todos sabem o que é Senado Federal. E todos sabem o que é o Supremo Tribunal Federal", disse o presidente.

Por fim, atacou o Datafolha, cujas pesquisas mostram o atual chefe do Executivo atrás de Lula. "Nunca vi um mar tão grande aqui com essas cores verde e amarela. Aqui não tem a mentirosa Datafolha. Aqui é o nosso Datapovo. Aqui, a verdade, a vontade de um povo honesto, livre e trabalhador."

O presidente ainda buscou capitalizar notícias positivas recentes no campo da economia, como a redução no preço da gasolina, o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) e a elevação no valor mínimo pago pelo programa Auxílio Brasil para R$ 600 —viabilizada por meio de uma PEC (proposta de emenda à Constituição) que autorizou um furo no teto de gastos e um drible na legislação eleitoral.

Bolsonaro disse também que seu governo "combate a corrupção para valer", ignorando episódios como o balcão de negócios do Ministério da Educação, que culminou na queda de Milton Ribeiro, e a suspeita de fraudes em despesas da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento do Vale do Rio São Francisco).

Seus familiares acumulam casos de suspeita de corrupção, como o suposto esquema de "rachadinha" no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no período em que ele era deputado estadual e a suposta atuação de Jair Renan Bolsonaro, o filho 04, em favor de empresários no governo do pai.

Reportagem recente do UOL apontou que, desde 1990, o presidente, irmãos e filhos negociaram 107 imóveis, 51 dos quais adquiridos total ou parcialmente com dinheiro vivo.

O presidente Jair Bolsonaro e a primeira-dama Michelle Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro e a primeira-dama Michelle Bolsonaro - Evaristo Sá/AFP

Mais cedo, após ter citado diversos momentos de tensão ou ruptura democrática, entre os quais o golpe militar de 1964, Bolsonaro disse durante café da manhã no Palácio do Alvorada, em Brasília, neste 7 de Setembro, que a "história pode se repetir".

"Quero dizer que o brasileiro passou por momentos difíceis, a história nos mostra. 22, 65, 64, 16, 18 e, agora, 22. A história pode se repetir. O bem sempre venceu o mal", afirmou ele.

"Estamos aqui porque acreditamos no nosso povo, e o nosso povo acredita em Deus. Tenho certeza de que, com perseverança, fazendo aquilo tudo que pudermos fazer [...], continuaremos nos orgulhando do futuro que deixaremos para essa criançada que está aí", completou.

Não é de hoje que o presidente flerta com o golpismo ou faz declarações contrárias à democracia. No ano passado, disse, por exemplo: "Alguns acham que posso fazer tudo. Se tudo tivesse que depender de mim, não seria este o regime que estaríamos vivendo. E apesar de tudo eu represento a democracia no Brasil".

Em 2020, Bolsonaro participou de manifestações que defendiam a intervenção militar —o presidente é um entusiasta da ditadura militar e de seus torturadores.

No 7 de Setembro do ano passado, em discursos diante de milhares de apoiadores em Brasília e em São Paulo, Bolsonaro fez ameaças golpistas contra o STF, exortou desobediência a decisões da Justiça e disse que só sairá morto da Presidência da República.

Nesta quarta, ele ainda deve discursar a apoiadores no Rio de Janeiro. A fala desta quarta-feira aconteceu durante café da manhã no Alvorada, na qual Bolsonaro recebeu ministros, parlamentares, o pastor Silas Malafaia e empresários investigados pelo STF, como o dono da Havan, Luciano Hang.

Em entrevista para a TV Brasil, pouco antes de sair para o desfile, o presidente também conclamou os brasileiros a sair de verde e amarelo durante o 7 de setembro, afirmando que a liberdade e o futuro dos brasileiros estão em jogo. "Então, o povo brasileiro hoje está indo às ruas para festejar 200 anos de independência e uma eternidade de liberdade. O que está em jogo é a nossa liberdade e o nosso futuro. A população sabe que ela é aquela que dá o norte para as nossas decisões", disse ele.

"Todos do Brasil, compareçam às ruas. Ainda dá tempo, de verde e amarelo, a cor da nossa bandeira, para festejar a terra onde vivemos, uma terra prometida, que é um grande paraíso", afirmou o presidente.

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