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As consequências da desinformação na sociedade

Grupos de jornalistas da América Latina trabalham na verificação de informações

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Constanza Cilley

Diretora da consultoria argentina Voices, é membro do Conselho de Administração da Wapor Latin America, o capítulo regional da associação global de pesquisa de opinião pública.

Assim como os problemas vinculados à economia, à corrupção, à insegurança e ao narcotráfico aparecem no topo das preocupações das pessoas, para quase três quartos dos latino-americanos a desinformação também é um problema importante em cada um dos países.

Na era da informação, em que a maioria das pessoas tem acesso a uma quantidade quase ilimitada de conteúdos, dois dos desafios mais importantes são a desinformação e as notícias falsas. Esse problema foi potencializado com uso de redes sociais e de diferentes plataformas digitais, que permitem a rápida difusão de informações sem filtros ou verificação.

Embora sejam numerosos os estudos que analisam o fenômeno da desinformação sob a perspectiva da "oferta", ou seja, que focam na forma que se divulga a informação falsa, são escassos os que analisam o que acontece no outro lado da equação, na "demanda", ou seja, o que acontece com os cidadãos.

Apesar do aparente desinteresse no assunto, esse é um tema central para as pessoas e, inclusive, pode ter implicações para a saúde física. Assim afirma o estudo da rede de consultoras WIN Latinoamérica, realizado em sete países da região (Argentina, Brasil, Colômbia, Equador, México, Paraguai e Peru).

O exemplo mais óbvio é a grande desinformação que ocorreu em alguns países em relação às vacinas durante a pandemia da Covid, especialmente no Brasil e na Colômbia. E o impacto da desinformação na saúde mental não é menor, especialmente considerando que alguns países da região estão acima da média global em termos de estresse, como Equador, Peru e Argentina. Segundo esse estudo, para metade da população a desinformação tem sido uma causa de ansiedade e estresse em suas vidas.

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Charge de Marília Marz ironiza Bolsonaro ter dito que quem toma vacina corre o risco de virar jacaré - Marília Marz - 20.ago.21/Folhapress

A percepção da desinformação como ameaça não se limita ao plano pessoal ou individual de equilíbrio mental. Há outras consequências vinculadas à difusão de notícias falsas. Para oito em cada dez latino-americanos entrevistados, a desinformação é uma ameaça à democracia; para três quartos das pessoas, ela pode ser um trampolim para debilitar a credibilidade do processo eleitoral.

Ademais, associada à desestabilização da democracia, para a ampla maioria das pessoas a desinformação aumenta a polarização na política. Sociedades "rachadas", como a argentina e a brasileira, se alinham claramente a essa percepção, embora sejam superadas por outras, como a colombiana e a mexicana. Isso questiona a direção causal dessa conexão entre falsificação da verdade e radicalização política.

É a falta de apego à objetividade das notícias que desencadeia a polarização ou (ao contrário) são os contextos rachados que alimentam o terreno fértil para uma indústria de desinformação?

O estudo também mostra que os latino-americanos tendem a ver o problema como complexo e multicausal e não hesitam em apontar culpados. O que vemos é que as fontes da sociedade são múltiplas e variadas, que foram desacreditadas como informantes confiáveis. Mas onde os latino-americanos depositam sua confiança? O estudo revela que a maioria confia em pessoas ou grupos informais, como a família, os amigos e pessoas como eles.

Por um lado, esse dado faz sentido se considerarmos que as instituições têm cada vez menos credibilidade na região. Por outro lado, no entanto, é bastante irônico, já que, na realidade, essas instituições se informam através das mesmas fontes que você. Assim, há um "leva e traz" de informação não verificada.

Nesse contexto crítico, cabe destacar os esforços de vários grupos de jornalistas que vêm surgindo na região e no mundo, que trabalham em rede para promover a verificação da quantidade de dados que circulam no mundo interconectado de hoje. A desinformação se tornou um dos problemas mais urgentes do momento e representa um desafio para a sociedade. Portanto, é fundamental que trabalhemos de forma colaborativa para mitigá-la.

Em última instância, abordar a desinformação e as notícias falsas requer um enfoque amplo, que envolva indivíduos, governos, educadores, empresas de mídia e plataformas de mídia social. Todos têm um papel a desempenhar no fomento de uma cultura de veracidade e responsabilidade de conteúdo.

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