Laura Mattos

Jornalista e mestre pela USP, é autora de 'Herói Mutilado – Roque Santeiro e os Bastidores da Censura à TV na Ditadura'.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Laura Mattos

A indefinição de Bruno Covas sobre as aulas presenciais

Por trás da decisão, está a análise de que o fechamento traz mais prejuízos à sociedade do que a reabertura

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Estamos a três semanas da volta às aulas, e a prefeitura da maior cidade do país ainda não definiu se o retorno será remoto ou presencial.

Diferentemente de municípios com novas administrações, recém-eleitas e que ainda tomam pé da situação da pandemia, em São Paulo, Bruno Covas não só inicia seu segundo mandato como certamente, dentre todos os prefeitos paulistas, tem o maior acesso ao governo do estado, do seu aliado do PSDB João Doria, e ao Centro de Contingência do Coronavírus.

E o Plano SP para a educação, de Doria, está definido desde 17 de dezembro: seguindo a política de países europeus, determina que as escolas sejam consideradas atividades essenciais e, portanto, se mantenham abertas, como hospitais, farmácias e mercados, mesmo com a piora da pandemia.

Por trás da decisão, está a análise de que o fechamento traz mais prejuízos à sociedade do que a reabertura. O governo hoje entende que, na equação da pandemia, além da probabilidade da contaminação, devem-se contabilizar os riscos diversos atrelados à saúde mental de crianças e adolescentes, à violência doméstica, à subnutrição e, claro, ao atraso educacional.

Bruno Covas, entretanto, não está convencido desse cálculo, e sua tendência é a de considerar estritamente os gráficos da pandemia, ao menos no caso das escolas (e não no de bares...).

O nome central na definição sobre a reabertura é o do secretário de Saúde, Edson Aparecido, que ganha força com a recondução ao cargo neste segundo mandato de Covas.

Nos bastidores, é conhecida sua inclinação pela manutenção do fechamento, pautada no temor de que as crianças, como tendem a ser assintomáticas, tornem-se vetores do vírus a familiares.

Por outro lado, a área da Educação, que defendia internamente a reabertura já em 2020, passou pela troca de secretário, de Bruno Caetano para Fernando Padula. O novo gestor, que não se manifestou publicamente, está ainda em fase de análise de argumentos pró e contra a reabertura.

A manutenção do fechamento das escolas na capital preocupa o governo do Estado, que vive um “consenso” sobre a necessidade do retorno presencial, de acordo com a secretária estadual do Desenvolvimento Econômico de São Paulo, Patricia Ellen.

São afetados, afinal, 2,5 milhões de alunos na educação básica pública e privada (mais de um quarto de todos os estudantes do estado). Pessimista em relação à capital, o governo é otimista com outras cidades. Apesar da troca de prefeitos, que dificulta análises precisas em poucos dias de mandato, um cálculo informal da secretaria de Educação dá conta de que o retorno deve ser presencial em 80% dos municípios.

Para Covas e os outros prefeitos que resistem em reabrir escolas há novos argumentos, fora do radar à época da decisão sobre aulas presenciais de 2020: a segunda onda, com o aumento de contaminação e de mortes, o vírus mutante inglês e o fechamento de escolas pela Inglaterra (que, diferentemente do Brasil, reabriu as escolas na fase mais amena da pandemia).

A isso se soma a persistente oposição ao retorno presencial por parte de sindicatos de professores, que ameaçam greve.

Por vias tortas, a compra de tablets pela prefeitura de São Paulo também pode ajudar Covas a segurar o fechamento na educação. Seria considerado plausível um discurso de que a cidade está mais preparada para o ensino remoto e que, portanto, pode esperar pela vacinação, ao menos dos professores, como pleiteiam os sindicatos.

O alardeado início da vacinação em São Paulo para 25 de janeiro, ainda que não confirmado, também dá fôlego a Covas para defender o fechamento de escolas com o raciocínio “Já esperamos até agora, por que não esperar só mais alguns meses?”

Dentro do governo, os mais otimistas cogitam que o prefeito possa abandonar a ideia, que defendeu com unhas e dentes, de uma mesma regra para as escolas municipais, estaduais e privadas. Assim, manteria as municipais fechadas e permitiria a abertura das escolas particulares e das estaduais, ainda que possa ser mais restritivo do que o plano de Doria sobre o número de alunos permitidos presencialmente: 100% na fase verde, 70% na amarela (a atual na maioria do estado), 35% na laranja e na vermelha.

Por enquanto, oficialmente, a Prefeitura de São Paulo afirma que está mantida a autorização para as atividades extracurriculares no ensino infantil e no fundamental e para as aulas regulares no médio.

A assessoria de comunicação diz que a decisão sobre uma reabertura maior depende da área da Saúde e que não tem data para ocorrer. Extraoficialmente, espera-se para a próxima semana um anúncio sobre como será a volta às aulas naquela que se tornou a capital mundial de escolas fechadas.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.