Leandro Narloch

Leandro Narloch é jornalista e autor do Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, entre outros.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Leandro Narloch
Descrição de chapéu desmatamento vale do javari

Como evitar novas tragédias na Amazônia?

Leis mais rígidas e mais repressão só aumentarão a violência e o crime organizado

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Que rumo devemos tomar para interromper a lamentável sequência de assassinatos na Amazônia, como o de Bruno Pereira e Dom Phillips? Há pelo menos dois caminhos.

O primeiro é insistir no modelo atual de combate ao desmatamento e outras ilegalidades. Criar leis ainda mais rígidas de licenciamento, intensificar a repressão a ribeirinhos que não conseguem se legalizar, gastar outros milhões de reais com operações da Polícia Federal e do Ibama para incendiar equipamentos, caminhões e balsas.

Essa alternativa envolve discursos bonitos de celebridades e muitos políticos prometendo medidas duras.

Dragas de garimpo ilegal deixam rastros no rio Juami, dentro da Estação Ecológica Juami-Japurá, no Amazonas - Reprodução/ICMBio

Envolve fingir que a bioeconomia e o ecoturismo são soluções viáveis para todos, e que um povoado instalado sobre a maior mina de diamantes do mundo preferirá catar açaí porque assim decidiram os descolados do Leblon e de Pinheiros.

Se insistirmos nesse modelo, muito mais sangue será derramado. Haverá mais suborno de fiscais e políticos, mais miséria, mais ressentimento contra ambientalistas. Mais violência —e com uma eficácia tão alta quanto o combate ao tráfico em favelas do Rio de Janeiro.

Podemos prever mais conflitos entre índios e garimpeiros, armamentos cada vez mais pesados —gente atirando em helicópteros da PF para evitar ter seu equipamento destruído.

Mas há uma segunda opção: tentar enxergar o problema do ponto de vista de gente pobre da Amazônia. Entender por que populações locais se ressentem com ambientalistas e apedrejam tantas sedes do Ibama e da Funai.

Reconhecer que a população pobre não-indígena não consegue regularizar terras, não pode minerar, leva anos tentando obter uma simples licença.

Nessa segunda linha de ação, o Greenpeace não comemoraria quando o general Mourão trava uma "greenwar" contra as balsas de garimpeiros do rio Madeira, deixando centenas de cozinheiras e operadores de balsa sem emprego de um dia para o outro.

Em vez disso, o Greenpeace ajudaria os garimpeiros do rio Madeira a adotar técnicas mais sustentáveis ou que dispensam o uso de mercúrio. Burocratas facilitariam a legalização das atividades e estipulariam regras de sustentabilidade fáceis de serem seguidas, ao contrário do que fazem hoje.

A Folha, em editorial e reportagens, culpou a "ausência de Estado" pelo fato da Amazônia ter se transformado no novo centro do crime organizado no Brasil.

"Se criminosos agem livremente naquele rincão amazônico é porque o Estado dali se ausentou", disse o editorial. Mas é preciso fazer uma pergunta anterior: por que há criminosos num lugar onde esperaríamos pescadores?

O crime organizado não precisa apenas de governantes desastrosos para se desenvolver. Precisa de um ambiente institucional que, como na guerra às drogas, proíbe ou dificulta a atividade legalizada e dá vantagem aos agentes corruptos e violentos.

Num dos últimos áudios que enviou antes de ser cruelmente assassinado, Bruno contou que pescadores estavam indignados porque perderiam a licença de pesca. "Eles vão perder o manejo do pirarucu que demorou 10 anos para eles tirarem."

Para evitar mais tragédias como a do indigenista e do repórter Dom Phillips, é preciso lidar com o excesso de leis, proibições e burocracias que dão força à violência e ao crime organizado na Amazônia.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.