Leão Serva

Jornalista, foi coordenador de imprensa na Prefeitura de São Paulo (2005-2009). É coautor de "Como Viver em São Paulo sem Carro".

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Leão Serva
Descrição de chapéu trânsito

Parque Minhocão

Ao assumir prefeitura, como indica, Covas deveria criar jardim linear da Augusta a Perdizes e trólebus embaixo

Fazia um tempo bonito sábado de manhã quando fui correr no parque Minhocão. Tinha menos gente do que nos domingos de sol. A notícia de que o antigo elevado a partir de agora fica aberto aos pedestres durante todo o final de semana ainda não se espalhou.

Sobre a Marechal Deodoro, a linda praça assolada pela obra horrorosa de 1971, havia um grupo de jovens fotógrafos e vários modelos fazendo trabalhos buscando os melhores ângulos. Poucos ciclistas aproveitavam para correr, diante de poucos frequentadores; algumas pessoas passeavam com cachorros; uns poucos se exercitavam. Tinha um só vendedor de água de coco.

Quando cheguei em frente à sede da Associação Parque Minhocão, o pequeno apartamento cuja janela dá para a pista, vi que o fundador da entidade, empresário Athos Comolatti, estava lá dentro, com outro militante do projeto do parque, o advogado Wilson Levy, jovem estudioso de direito urbano.

Me aproximei, fiz sinal, os dois vieram à janela. Parecia uma cidade do interior, onde quem passa na rua interage com o interior da casa. Os urbanistas, como Jane Jacobs e Jan Gehl, citam essa possibilidade como sinal de saúde das metrópoles, em contraposição àqueles lugares em que a rua é só uma rota de passagem de carros e os moradores ficam isolados dentro de casa.

Os defensores do parque acabam de ter uma vitória institucional. Ao sancionar a lei que amplia as horas sem trânsito no elevado, o prefeito Doria afastou a possibilidade de demolição da obra (defendida por outros militantes contrários ao Minhocão). Vale lembrar que o Plano Diretor da Cidade prevê o fechamento total do viaduto aos carros em 2029 e até lá um aumento progressivo da abertura aos pedestres. Em cerca de 90 dias, o fechamento noturno será antecipado para as 20h (hoje é as 21h).

 Vista do Minhocão
Vista do Minhocão - Joel Silva/Folhapress

Tentei conversar com os dois militantes, mas, apesar da curta distância, é impossível: o lugar tem um barulho constante, ensurdecedor, mesmo quando só circulam carros na rua embaixo (av. São João ou General Olímpio da Silveira).

Esse ruído poderia ser menor se as linhas de ônibus que passam ali embaixo tivessem sido convertidas em trólebus. É uma tarefa para o novo prefeito, Bruno Covas: dar sequência às medidas de melhoria da qualidade de vida na região. Há muito para ser feito, não basta decretar um parque intermitente e deixar o resto como está.

Além de trocar os ônibus por elétricos, Covas poderia iniciar sua gestão criando uma ligação física do Minhocão com a Praça Roosevelt. Enquanto prefeito, Doria prometeu ligar o parque Augusta à Roosevelt, fazendo da rua Gravataí um calçadão verde. Juntando a Roosevelt ao Minhocão podemos ter um parque linear da Augusta ao Largo Padre Péricles, em Perdizes. Com menos barulho e um contínuo de verde, a qualidade de vida certamente vai melhorar muito.

A lei diz que, até 2029, devemos ter avanços progressivos na redução de automóveis sobre o viaduto. A prefeitura poderia fechar logo duas de suas quatro pistas e tornar o trânsito unidirecional: de manhã, no sentido Leste-Oeste; de tarde, ao contrário. Com a medida, o volume de carros cairia à metade e duas pistas já poderiam ser ocupadas por jardins. E assim iremos avançando sempre aos poucos, em vez de ter solavancos súbitos de tempos em tempos.

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