Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães
Descrição de chapéu terrorismo Partido Republicano

Republicanos normalizam violência política nos EUA

Democratas poderiam trazer de volta a discussão sobre o que constitui terrorismo

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É cada vez mais difícil distinguir certos membros eleitos do Partido Republicano de defensores do terrorismo doméstico. Na segunda-feira (8), um deputado republicano do Arizona postou um vídeo alterado de uma série japonesa de anime em que ele aparece assassinando a deputada democrata nova-iorquina Alexandria Ocasio-Cortez, conhecida pelo apelido de AOC. Após matar a colega a facadas, o avatar do deputado no vídeo usa as mesmas armas para ameaçar Joe Biden.

A fama nacional de extremista acompanha Paul Gosar desde que seis de seus nove irmãos gravaram um vídeo alertando para a crescente radicalização do deputado e apoiando seu adversário na campanha de 2018. Gosar não só se reelegeu como se tornou um dos aliados favoritos de Donald Trump.

O deputado republicano pelo Estado do Arizona Paul Gosar durante audiência em comitê do Congresso dos EUA, em Washington
O deputado republicano pelo Estado do Arizona Paul Gosar durante audiência em comitê do Congresso dos EUA, em Washington - Jonathan Ernst - 12.mai.21/AFP

A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, cobrou do líder da minoria republicana uma investigação de Gosar, mas AOC, cuja rotina inclui ameaças de morte diárias, prevê que o colega deve continuar impune. Em outubro, a revista Rolling Stone revelou que Gosar, nos dias que precederam o ataque ao Capitólio, em janeiro, prometeu indulto presidencial automático para os invasores.

Ninguém espera que o republicano, cuja simpatia por grupos neonazistas é mal disfarçada, vá consumar suas fantasias homicidas. Mas antes de ser retirado do Twitter e do Instagram o vídeo de Gosar foi assistido mais de 3 milhões de vezes. AOC é um dos maiores alvos de ameaças de morte da história do Congresso americano e usa segurança particular para se locomover.

A normalização da violência pelo Partido Republicano se agravou após a invasão do Capitólio. Uma das atividades mais perigosas hoje nos EUA é a de monitor de eleições. Os ocupantes do cargo são nomeados por governadores ou legislativos estaduais porque até pleitos nacionais são administrados por estados.

Desde que Trump reagiu à derrota, em novembro passado, intimidando oficiais eleitorais de estados que ele perdeu para Biden, seus apoiadores tornaram a rotina desses funcionários públicos um inferno.

A agência de notícias Reuters entrevistou vários autores de ameaças de morte e descobriu que, além de não terem sido contatados por autoridades, eles não temem ser identificados. Esperam impunidade.

Novas revelações sobre a violência no Capitólio e a ativa participação de republicanos do entorno de Trump na tentativa de golpe de Estado tornaram mais intenso o debate sobre a impunidade.

O secretário de Justiça, Merrick Garland, está sendo questionado pela inação no caso de Steve Bannon, o agitador radical denunciado pelo crime de desafiar uma intimação para depor à comissão que investiga o 6 de janeiro. Garland tem a lei ao seu lado, mas parece temeroso de ser acusado de politizar a Justiça.

Que incentivo terão outras testemunhas já intimadas pela comissão para cooperar se Bannon, já premiado com um indulto de Trump, antes de se julgado por outro crime —fraude financeira—, continuar impune?

O FBI classificou a invasão do Capitólio de "terrorismo doméstico". Depois do 11 de Setembro, a palavra terrorismo adquiriu uma força cultural frequentemente associada a sentimento anti-islâmico.

O Partido Republicano tem sabotado os esforços para investigar um dos mais graves episódios de violência política no país. Os democratas poderiam trazer de volta a discussão sobre o que constitui terror.

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