Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães
Descrição de chapéu Governo Biden

EUA vão reprimir comportamento extremista nas Forças Armadas

À medida que o aniversário da invasão do Capitólio se aproxima, nota-se clima de desânimo com a percepção de que o 6 de Janeiro foi um ensaio

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O Pentágono tem uma boa notícia para os racistas que querem servir nas Forças Armadas. Eles podem ser membros de carteirinha da Ku Klux Klan. A temida organização defensora da supremacia branca, fundada por sulistas derrotados na Guerra Civil, sempre teve seus simpatizantes de armário nos quartéis.

Mas o apoio à invasão do Capitólio por um pequeno grupo de militares acendeu tardiamente a luz vermelha, e o Departamento de Defesa divulgou, na segunda-feira (20), novas diretrizes sobre associações extremistas para mais de 3 milhões de membros da ativa e da reserva.

Soldados patrulham o Capitólio, em Washington
Soldados patrulham o Capitólio, em Washington - Olivier Douliery - 6.mar.21/AFP

É permitido ser membro da KKK, mas distribuir ou curtir posts que promovem violência ou a derrubada do governo vai gerar punição disciplinar. Qual a diferença? O porta-voz do Pentágono reconheceu os dilemas para elaborar as normas e argumentou: a rede social introduziu uma fluidez nas franjas extremistas que torna fútil um foco em organizações estáveis como a KKK, fundada há mais de 150 anos.

Hoje, grupos praticam rebranding, e o neonazista dos anos 1980 pode ser o "nacionalista" do momento.

A outra constatação em casos de extremismo entre militares é que a maioria não se envolve só com um grupo. Muitos se radicalizam ou cozinham um sarapatel ideológico de várias facções que tornaria difícil investigar casos com base em organizações. É o comportamento radical que o Pentágono quer identificar.

O foco em grupos poderia também levar um presidente de impulsos autocratas como um Donald Trump em esteroides a tentar criminalizar a filiação a grupos tradicionais de defesa de direitos civis.

Mas o fato é que o governo federal não tem tempo ou recursos para ser bedel de rede social. A cloaca de conteúdo radical facilitada por Facebook ou Twitter emerge no radar quando usuários flagram o comportamento de pessoas que se identificam como militares. No ano passado, mais de meio milhão de pessoas apoiou um abaixo-assinado pedindo que a KKK seja classificada como organização terrorista. Mais uma vez, a frágil fronteira da hipocrisia. A tolerância ao extremismo de cristãos brancos não seria reservada, por exemplo, a um soldado muçulmano que se correspondesse com a Al Qaeda.

À medida que o aniversário da invasão do Capitólio se aproxima, nota-se um clima de desânimo com a percepção de que o 6 de Janeiro foi um ensaio, que os responsáveis podem não enfrentar a Justiça e que a radicalização só cresceu. Na semana passada, três generais da reserva publicaram um artigo de opinião no Washington Post sob o título "Os militares têm que se preparar para a insurreição de 2024".

A referência é a próxima eleição presidencial, cuja segurança está sendo sistematicamente minada pelo Partido Republicano nos executivos estaduais, nos quais o controle do voto e da apuração por pouco não tornou o plano de Trump, de roubar a eleição de Biden, bem-sucedido.

Os autores denunciaram um clima de insurreição, citando a recente recusa de um general da Guarda Nacional da Oklahoma de acatar uma ordem de Biden, o comandante das Forças Armadas sob a Constituição, sobre vacinação. Os oficiais pedem ao Pentágono para fazer exercícios militares de prevenção contra uma nova tentativa de golpe de Estado mais bem organizada. E não descartam a possibilidade de haver revoltas em quartéis por descontentamento com o resultado da eleição.

É o cenário de sonho de um acuado capitão da reserva em Brasília.

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