Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Lúcia Guimarães
Descrição de chapéu
Governo Biden Diplomacia Brasileira

Intervenção do Tio Sam para proteger eleição brasileira soa como 'imperialismo do bem'

História de intervenção antidemocrática americana na América Latina forçou Biden a defender integridade eleitoral

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Melhor se nós, brasileiros, tivéssemos contado a história. Mas foi o Financial Times, jornal fundado no século 19, quando o Império Britânico se expandia para controlar um quarto do planeta, que revelou o discreto charme da burguesia democrata ativada por Joe Biden para impedir que os gângsteres de verde-oliva sequestrassem a eleição presidencial de 2022.

Existe imperialismo do bem? Se o seu filho torturado apodrecia numa cela brasileira, cortesia de generais, a resposta poderia ser: "Presidente Jimmy Carter, dá uma prensa no Ernesto Geisel!"

Se o seu filho foi preso por um general guatemalteco protegido por Ronald Reagan, a resposta seria: "Abaixo o imperialismo ianque!"

O presidente dos EUA, Joe Biden, e o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, apertam as mãos na Casa Branca - Jonathan Ernst - 10.fev.23/Reuters

A reportagem de Michael Stott, Michael Pooler e Bryan Harris relata que o governo Biden articulou uma ofensiva não anunciada para transmitir o recado de que os EUA não ficariam neutros diante de uma tentativa de roubar a eleição.

Dada a história de intervenção antidemocrática americana na América Latina, Biden precisava deixar claro que defendia a integridade eleitoral, não um ou outro candidato.

Joe Biden era ativado por alarmes anti-Trump. Ele justificou a candidatura do mais velho aspirante a presidente como uma frente pró-democracia, e a invasão do Capitólio conferiu um novo senso de urgência ao início do seu governo.

Em agosto de 2021, Jake Sullivan, assessor de Segurança Nacional do americano, desembarcou em Brasília. Seu discurso sobre a doutrina Biden em abril passado deveria ter recebido melhor cobertura. Aliados dos EUA podem discordar de Jake Sullivan, mas ignorá-lo não é uma escolha sensata.

Sullivan saiu da reunião com o destrambelhado no Planalto convencido de que ele tentaria uma solução trumpista para a eventual derrota nas urnas.

Pausa para manifestar gratidão à resplandecente estupidez do capitão e seus assessores. Devemos a descerebrados deslumbrados como o deputado Bannoninho terem acendido o alerta vermelho em Washington.

A ofensiva "muito incomum", segundo o jornal britânico, vai merecer maior escrutínio no futuro, pela participação de atores brasileiros na pressão aos militares e na coordenação com os Estados Unidos, além de países da União Europeia, rápidos no gatilho para reconhecer a vitória de Lula.

Na reportagem, o ministro do STF Luís Roberto Barroso revela-se o interlocutor que pediu ao então encarregado de negócios da embaixada americana em Brasília, Douglas Koneff, para endossar a eficácia do sistema eleitoral brasileiro.

Quem continua no armário é um alto conselheiro de Lula, que ligou para Washington no meio do ano passado, perguntando a um amigo e ex-funcionário de outra Presidência democrata se Biden prestava atenção suficiente à agitação golpista. O amigo, com bom trânsito entre bidenistas, assegurou ao interlocutor: o roubo da eleição seria enfrentado com represálias.

O diplomata Thomas Shannon revela na reportagem que há mágoa em Washington pela ingratidão de Lula. É claro, admitem, que foram os brasileiros que defenderam sua democracia. Mas os EUA deixaram claro que iam agir em caso de golpe.

Biden não é otário para esperar alinhamento automático de Brasília. Mas a hostilidade que marcou o começo do governo Lula, como quase responsabilizar a Ucrânia por ser invadida, é real. "O problema," diz à Folha um veterano diplomata brasileiro que ainda não reivindica vaga em filas especiais para idosos, "é uma geração de mais de 65 anos que prejudica a relação bilateral com os EUA. Sofrem do velho automático impulso anti-imperialista."

Erramos: o texto foi alterado

O diplomata ​Douglas Koneff foi incorretamente identificado como embaixador dos EUA em Brasília à época da eleição presidencial no Brasil. Ele era encarregado de negócios da representação diplomática.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.