Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães

Decisão contra governo Biden libera desinformação perigosa nas redes sociais

Premissa que guia liminar puxada por republicanos mostra o apetite do lobo fascista na pele da ovelha libertária

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Um juiz federal americano emitiu uma excepcionalmente vasta liminar que proíbe o governo de Joe Biden de se comunicar com empresas de rede social para questionar conteúdo nos Estados Unidos.

A decisão é uma resposta à ação judicial movida por procuradores estaduais republicanos de Missouri e Louisiana que acusaram o governo de censura e violação da Primeira Emenda da Constituição —que garante a liberdade de expressão— ao pedir a empresas como Twitter, YouTube e Meta para monitorar ou remover postagens.

O presidente dos EUA, Joe Biden, durante evento em Washington
O presidente dos EUA, Joe Biden, durante evento em Washington - Julia Nikhinson - 4.jul.23/Reuters

O juiz Terry Doughty, da Louisiana, autor da decisão e nomeado pelo ex-presidente Donald Trump, honrou a tradição passadista da elite de seu estado, conhecido por algumas das piores estatísticas de saúde do país. A liberdade de expressão que o magistrado defende inclui espalhar mentiras sobre vacinas e outras campanhas virais de desinformação.

Durante o mais intenso período da pandemia de Covid, autoridades sanitárias da Louisiana se revelavam impotentes diante da disseminação de notícias falsas sobre vacinas nas redes sociais, o que ajudou a lotar salas de emergência e provocou incontáveis mortes prematuras no estado que está em 43º lugar no índice de expectativa de vida nos EUA.

No momento, a decisão é liminar, e é possível que o governo tente apelar. Ainda assim, é extraordinária pelos detalhes da restrição a comunicações de agências do governo e por validar teorias conspiratórias, com repercussão potencial na saúde pública, na integridade das eleições de 2024 e em inúmeros outros aspectos da vida americana que migraram para as plataformas sociais, como alertas sobre desastres naturais, abuso sexual infantil e prevenção de terrorismo.

Não é mais possível levar a sério o chocalho da defesa da liberdade de expressão sacudido histericamente por conservadores nas últimas décadas. A liminar do juiz Doughty, em pleno feriado da Independência do 4 de Julho, expõe a hipocrisia do "excepcionalismo" americano.

A agenda conservadora foi reduzida para manter uma minoria no controle da maioria. Assim, a racionalidade de argumentos é a primeira vítima da militância, hoje um rabo sacudindo o cada vez maior cão são bernardo que é a população americana.

O partido que retira livros de bibliotecas, proíbe currículos de história de relações raciais e reclama o direito de decidir o que mulheres adultas fazem com seus corpos quer nos convencer de que monitorar rumores falsos em eleições, calar agências federais de saúde sobre os perigos de uma pandemia e tentar prevenir mortes por ignorância abastecida por empresas privadas são formas de liberdade individual.

Considerando a orgia de desinformação e propaganda extremista promovida por Elon Musk no Twitter e o comprovado papel do Facebook de Mark Zuckerberg em avacalhar a eleição de 2016, a ideia de que agências federais não podem nem sequer mandar um e-mail para os bilionários titãs do apocalipse, pedindo moderação e proteção à vida, ilustra o apetite do lobo fascista na pele da ovelha libertária.

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