Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Descrição de chapéu Governo Biden

Estrela do governo Biden que desafiou big techs vira espantalho da direita

Republicanos pressionam Lina Khan, mais jovem presidente da história da Comissão Federal de Comércio dos EUA

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Ela começou como uma raridade em Washington –abraçada por políticos que se detestam.

Lina Khan, a mais jovem presidente da história da FTC, a Comissão Federal de Comércio dos EUA, chegou à capital americana em 2021, aos 32 anos, bem-vinda por esquerdistas exaltados e direitistas sempre à procura de uma guerrinha cultural na economia. A lua de mel com a direita acabou rapidamente.

Lina Khan, hoje presidente da Comissão Federal de Comércio dos EUA, depõe a comitê do Senado, em Washington
Lina Khan, hoje presidente da Comissão Federal de Comércio dos EUA, depõe a comitê do Senado, em Washington - Graeme Jennings - 21.abr.21/Pool/Reuters

Uma juíza federal impôs uma derrota feia à FTC nesta semana, negando o bloqueio da compra da empresa de videogames Activision Blizzard pela Microsoft, uma aquisição de US$ 69 bilhões.

É a segunda decisão judicial neste ano que corta as asas do primeiro esforço do Executivo federal para reverter décadas de concentração corporativa da era tecnológica. Em fevereiro, um juiz federal impediu a FTC de bloquear a compra da empresa Within, de conteúdo de realidade virtual, pela Meta, de Mark Zuckerberg.

Nesta quinta (13), a comissão de Justiça, sob controle da maioria republicana na Câmara, deve partir para cima de Khan, numa sabatina liderada por um dos mais despreparados lambe-botas de Donald Trump, o deputado Jim Jordan, de Ohio. Os 21 colegas republicanos de Jordan, que votaram no Senado para aprovar o nome de Khan em 2021, viam na acadêmica da Universidade de Columbia uma arma para atingir os bilionários do Vale do Silício, que acusavam de censurar o discurso de direita nas plataformas online.

Não importa se ela fez seu nome ainda na pós-graduação por um paper célebre de 2017, detalhando como a Amazon atraía consumidores com preços baixos, barrando a ascensão de concorrentes. Ela defendia a repartição da Amazon com base em leis antitruste usadas antes contra os monopólios da era pré-digital.

Nem os mais progressistas políticos americanos esperavam que Khan fosse liderar a FTC. Mas ela é alinhada ao projeto da Presidência Biden que tenta se afastar do chamado capitalismo de acionistas em benefício do capitalismo para toda a sociedade, de trabalhadores a empresários. Antes de ser nomeada, Khan deixava claro que se preocupava com valores, não com preços. Ela se tornou uma das mais importantes vozes intelectuais críticas do poder sem freios de empresas como Google, Meta e Amazon.

A influente Câmara de Comércio dos EUA pediu aos republicanos para ir atrás de Khan, por tentar extinguir uma prática abusiva e impopular entre trabalhadores, a cláusula de não competição. Trata-se da obrigação contratual que impede empregados de trabalhar para empresas concorrentes, reduzindo, na prática, o poder de barganha salarial. No momento, a iniciativa está na fase de consultas.

A carga republicana contra Khan é financiada por bilionários como Charles Koch, da indústria química e de energia, membro da família que mais fez para impedir o combate à crise climática.

Khan sofre artilharia pesada de editoriais do Wall Street Journal, de Rupert Murdoch, o dono da Fox News. Uma propaganda em vídeo patrocinada por Google, Amazon e Koch, entre outros, supostamente contra os abusos da FTC, mal disfarça o tom pessoal contra essa mulher de origem paquistanesa nascida em Londres.

Um lobista confessou a uma repórter que a cartilha sexista de ataques a Khan segue a usada contra a popular deputada Alexandria Ocasio-Cortez. Mulheres jovens, vozes independentes, espantalhos favoritos.

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