Ocasio-Cortez pede que EUA abram arquivos sobre a ditadura brasileira

Deputada democrata quer relatório sobre envolvimento no golpe de 1964 e conhecimento de violações de direitos

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Washington

A deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez apresentou pedido para que o Departamento de Estado dos EUA libere documentos da inteligência americana sobre a ditadura militar brasileira.

A demanda foi feita em texto ainda provisório de emenda ao orçamento anual de Defesa dos EUA (NDAA, na sigla em inglês) junto de, até agora, outras 1.471 propostas de parlamentares e não há garantia de que será aprovada. Em 2022, alguns deputados democratas tentaram aprovar uma emenda para investigar se as Forças Armadas do Brasil estavam interferindo nas eleições brasileiras, o que não entrou no texto final.

A deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez durante entrevista coletiva no Capitólio, em Washington
A deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez durante entrevista coletiva no Capitólio, em Washington - Alex Wong - 24.mai.23/Getty Images via AFP

No texto provisório da emenda, AOC, como a deputada representante da ala mais à esquerda dos democratas é conhecida, quer um relatório do secretário de Estado, Antony Blinken, sobre o envolvimento dos EUA no golpe de 1964 ou conhecimento prévio das possibilidade de os militares tomarem o poder.

Também pede que o eventual documento contenha informações de inteligência entre os anos de 1964 e 1985 sobre o envolvimento dos militares brasileiros em assassinatos, torturas, desaparecimentos e prisões arbitrárias, bem como sobre a morte de indígenas por violência direta ou negligência.

O relatório também deve conter, segundo o pedido, uma análise da parceria militar entre americanos e brasileiros durante a ditadura, "incluindo qualquer apoio para a implementação da doutrina de segurança nacional do Brasil nesse período", com detalhes sobre treinamento, logística e transferência de armas.

O golpe militar completa 60 anos em 2024, e a participação dos EUA já foi documentada por historiadores.

O embaixador dos EUA no Brasil em 1964, Lincoln Gordon, propôs o envio de uma força naval para a costa brasileira para ajudar as tropas que derrubariam João Goulart (1961-1964), na Operação Brother Sam. A ação foi aprovada pelo governo Lyndon Johnson, mas Goulart caiu antes que os navios chegassem.

Também está registrado o conhecimento dos EUA das violações de direitos pelo regime. Arquivos da embaixada americana de 1975-1976 publicadas pelo WikiLeaks apontaram que a Casa Branca sabia das violações de direitos humanos, mas as minimizavam como exceções para justificar a continuidade do apoio e de treinamento militar das forças brasileiras. Os Estados Unidos também deram apoio à Operação Condor, que criou uma rede para operações coordenadas de repressão nas ditaduras do Cone Sul.

Reportagem da Folha mostrou nesta semana que o historiador americano James Green, um dos principais pesquisadores sobre o Brasil nos EUA, prepara em conjunto com ativistas e organizações nacionais um pedido para que os EUA liberem cerca de mil arquivos secretos que podem revelar a atuação do país no golpe de 1964 e na ditadura militar. Um precedente ocorreu no ano 2000, quando, após pressões da sociedade chilena, os EUA liberaram 11 mil documentos sobre seu envolvimento no golpe de 1973.

A proposta do orçamento anual de Defesa dos EUA ainda recebeu outra emenda de um deputado pedindo informações sobre o Brasil, desta vez o republicano Carlos Gimenez. Ele quer um relatório da Casa Branca sobre a presença militar iraniana no Brasil, na Bolívia e na Venezuela.

O Brasil foi criticado por autoridades americanas por permitir que dois navios de guerra iranianos alvos de sanções dos EUA atracassem na costa brasileira entre o fim de fevereiro e o começo de março.

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