É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.
'Veep' apela a 'House' para manter seu vigor —e funciona
Ela passou de vice decorativa a presidente, e agora luta por apoio popular para se manter no cargo.
Selina Meyer (Julia Louis-Dreyfus) pode não ser a única nessa empreitada, mas é quem a leva com mais graça, para sorte dos espectadores de "Veep", que estreou sua quinta temporada no domingo passado (24) coincidindo o desfecho da campanha presidencial fictícia com a disputa (às vezes surrealista) para suceder Barack Obama em 2017.
Reprodução/Twitter/MrTonyHale | ||
Hugh Laurie (que interpreta Tom James) entre Tony Hale (Gary) e Julia Louis-Dreyfus (a presidente Selina Meyer), a trupe de "Veep" |
É um lado mais leve da política americana do que aquele mostrado em dramas como "House of Cards" ou "The West Wing" (1999-2006).
Mas nem por isso menos verdadeira, haja visto a recente troca de insultos iniciada pelo ex-presidente da Câmara John Boehner, que chamou o senador do mesmo partido e pré-candidato presidencial Ted Cruz de FDP e ouviu de volta que é "chefe de quadrilha".
Na temporada passada, Selina, que havia assumido a Casa Branca com a renúncia de seu chefe, disputava a eleição tendo como vice o magnético Tom James (Hugh Laurie, o eterno doutor House).
No episódio de reestreia, ela se torna refém do intrincado sistema eleitoral americano, sem saber se permanecerá no cargo.
O retorno de "Veep" acabou ofuscado pela volta de "Game of Thrones", da mesma emissora, mas não merece atenção menor. Trata-se de uma das mais inteligentes comédias no ar, com um elenco afinado que só ganhou com o acréscimo de Laurie no meio da temporada anterior.
Com uma interpretação que parece evocar, ao mesmo tempo, o tom solene e levemente desengonçado do chanceler americano, John Kerry, e o charme canastrão do vice de Obama, Joe Biden, Laurie afugenta o espectro de "House" com seu melhor papel desde que a série que o elevou ao panteão de anti-heróis da TV americana acabou, em 2012.
A dinâmica entre Louis-Dreyfus, dona de uma verve cômica que a levou a acumular prêmios Emmy entre Selina e sua Elaine de "Seinfeld", e Laurie bastaria sozinha para garantir que as risadas continuem a fluir, como se "Veep" fosse nova.
Para uma comédia que tende a se apoiar nas exclamações desbocadas de sua protagonista e a repetir a dinâmica de chacotas e patadas entre os membros de sua equipe de governo ou entre a presidente e a primeira-filha, Catherine (Sarah Sutherland), foi revigorante.
O paralelo inevitável com a campanha atual, que se assemelha a um reality show e tem por ora uma mulher como favorita (Hillary Clinton), serviu bem ao mesmo propósito.
Políticas mulheres podem ter a aprender com a personagem criada por Louis-Dreyfus, que não se enquadra nos estereótipos delineados para elas por marqueteiros (a mãezona, a durona, a bela recatada) e se impõe sem tampouco atenuar seu gênero.
Se sua Selina mesquinha e atrapalhada vai conquistar o eleitorado não se sabe, mas a próxima temporada já está confirmada.
"Veep" vai ao ar na HBO aos domingos, às 23h30, com reprises durante a semana
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