Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Luciana Coelho

'The Sinner', na Netflix, surpreende em segunda temporada viciante

Série leva facilmente o espectador a uma maratona, sem desperdício de cenas

A regra é tácita: uma minissérie ótima que faz sucesso logo será convertida em “série antologia” —o tipo em que as temporadas são independentes no mesmo universo temático e estético—, e a segunda temporada quase inevitavelmente será uma bomba.

Foi assim com “True Detective” (de volta em 2019), muita gente acha que foi assim com “Handmaid’s Tale” (não esta colunista), e dá calafrios pensar que seria assim com “Big Little Lies” (também de volta em 2019).

“The Sinner” (USA/Netflix), contudo, escapa.

O ator adolescenteestá sentado no chão de um quarto de hotel acarpetado assistindo a TV
Elisha Henig como Julian Walker na segunda temporada de "The Sinner" - Peter Kramer/USA Network

Um dos motivos é que a série se ampara em referências clássicas e tem menos pretensões narrativas do que as obras citadas. É um bom drama de detetive, que tira sua graça do fato de já se saber, de cara, quem é o assassino sem se conhecer sua motivação. 

A subversão narrativa nos faz simpatizar com o criminoso e, por extensão, com o detetive Ambrose (papel cativante do veterano Bill Pullman), para quem um crime não se resolve no quem matou.

Na temporada passada, a assassina era Cora (Jessica Biel, em seu melhor papel), uma dona de casa que esfaqueia um desconhecido na praia. Desta vez, é Julian (Elisha Henig), um garoto tímido de 13 anos acusado de envenenar os pais a caminho do Niágara. 

Julian não é um adolescente comum; ele é criado por uma seita reclusa que prega a liberação de instintos negativos, os quais devem se harmonizar com os positivos. A comunidade é guiada por Vera (Carrie Coon, a Nora Durst de “Leftovers”), uma mulher de passado irrastreável que recorre à hipnose para manter seu controle sobre as coisas.

Com Ambrose, está a policial Heather (Natalie Paul), que tem uma ligação pessoal com a comunidade de Mosswood. 

Há elementos demais que lembram outras séries —a própria ideia da seita soa familiar por causa do documentário “Wild Wild Country”, e, apesar dos desempenhos pungentes de Coon e do pequeno Henig, falta a eles o magnetismo avassalador de Jessica Biel.

Com isso, sobra para Pullman e seu personagem manterem o espectador atento, acompanhando seu raciocínio conforme ele junta as peças do jogo, escava passados obscuros e se aproxima de seu investigado —que, afinal, é como as boas histórias de detetive devem ser conduzidas.

A referência a Alfred Hitchcock, como na primeira temporada, é forte, com direito a cena de chuveiro com quadros copiados do britânico, mas a comparação com a recente “Homecoming” (Amazon Video) a deixa atrás em estética.

Ainda assim a força de uma história bem escrita é irresistível, e o desejo de completar os quebra-cabeças de Ambrose, o atual e o do passado, leva facilmente o espectador a uma maratona, sem desperdício de cenas nem capítulos. 

O personagem de Pullman, um ator injustamente deixado no time B de Hollywood, já tem lugar no panteão de anti-heróis adoráveis da ficção.

Os oito episódios da segunda temporada de “The Sinner” estão na Netflix

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