Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Comovente, 'Segunda Chamada', na Globo, traz excesso de realidade

Série com Débora Bloch e Linn da Quebrada aborda dramas do ensino para adultos excluídos

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É difícil assistir a um episódio inteiro de “Segunda Chamada”, série em 11 partes que a Globo estreou na última terça (8). Não pela qualidade da série (alta) nem de seu elenco (afinado), mas porque dói rever quão penoso é trabalhar com educação no Brasil e lembrar-se de como são destratados tantos professores.
Mais pungente é constatar como o foco do poder público tem sido desviado para temores imaginários, e problemas reais, como evasão escolar, relegados a segundo plano.

Não que a série se pretenda um libelo político —está mais para drama de tintas carregadas, embora bem conduzido.

Mas escolher como cenário uma escola pública no período noturno, que recebe jovens e adultos atrás do tempo perdido nos estudos, cai bem ao momento de rejeição ao saber e de obscurantismo orgulhoso que assola o planeta.

Como em outras séries recentes da Globo (“Sob Pressão”, “Carcereiros”, “Justiça”), o objetivo é realismo e sua dose de desgraças verossímeis. 

“Segunda Chamada”, porém, avança ao desenhar personagens mais ambivalentes, presos todos a situações abusivas, em algum grau, das quais não conseguem se livrar. A tal segunda chance pela qual clamam o título e os diálogos é mais mantra do que fato.

A personagem principal é Lúcia, uma professora de português interpretada por Débora Bloch que se recupera de um grande trauma. Seu objetivo, encarado como missão, é manter os alunos em sala sem que sejam abduzidos por problemas como dependência química, pobreza extrema, criminalidade, excesso de trabalho, preconceito.

A Lúcia de Bloch é sonhadora, contraposta ao pragmático Jaci, o diretor encarnado por Paulo Gorgulho. Este quer fazer a escola funcionar, mesmo que precise anestesiar parte de sua sensibilidade.

Junto deles estão a sensível Sônia (Hermila Guedes, de “O Céu de Suely”, fantástica), a despachada Eliete (Thalita Carauta, ladra de cena) e o utopista Marco André (Silvio Guindane). Embora seus problemas sejam menores que o dos alunos, não são pequenos —Sônia, por exemplo, vive uma relação abusiva que a traga para uma rotina exaustiva entre a escola e a família.

É da turma de alunos, contudo, de onde vem a maior carga dramática, principalmente nos personagens de Natasha (Linn da Quebrada, marcando a estreia da atriz trans na TV), travesti que convive com ameaças e ignorância, e Maicon (Felipe Simas), motoboy que trabalha sem pausa.

A confluência de dramas no texto das autoras Carla Faour e Julia Spadaccini, que criaram a história com Jô Bilac, é verossímil. O fato de eclodirem todos simultaneamente, como uma espécie de pororoca de desgraças, porém, pode acabar anestesiando o espectador mais distanciado dessa realidade para o realismo da série.

Isso posto, é de se aplaudir um drama escolar que se ancore no universo adulto, e não nos dilemas adolescentes. E de se exaltar aqueles que, no mundo real, escolhem participar desse universo seja à frente ou atrás das carteiras.

“Segunda Chamada” vai ao ar às terças, 23h, na Globo; os 11 episódios de 40 minutos são disponibilizados uma semana antes na plataforma Globoplay

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do que foi escrito em versão anterior deste texto, a obra não foi inspirada em uma peça. 

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