Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona

JJ Abrams revê tragédia da Challenger, que explodiu no ar com professora dentro

Produtor de 'Lost' explora sonho americano e teorias conspiratórias em 'Challenger: Voo Final'

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Tinha sete anos quando a Challenger, o ônibus espacial americano que em sua terceira missão levaria ao espaço seis astronautas e uma professora de ensino médio, explodiu no ar, 73 segundos após o lançamento, na Flórida, nos Estados Unidos.

Quase 35 anos depois, a imagem é uma das minhas memórias televisivas mais perenes.

A tragédia, a primeira televisionada ao vivo a surpreender milhões de expectadores, é objeto de "Challenger: Voo Final", documentário em quatro partes disponível na Netflix desde o mês passado, criado por Steven Leckart e Glen Zipper com a produção executiva de J. J. Abrams, de "Lost", e "Westworld".

Há uma série de razões para que a explosão do ônibus espacial no céu da Flórida faça parte do imaginário de quem estava vivo em 28 de janeiro de 1986. A primeira é Christa McAuliffe.

Duas mulheres e cinco homens posam para foto, com roupas de astronauta e capacete, e a bandeira dos EUA ao fundo
Cena do documentário 'Challenger: Voo Final' - Divulgação

O programa espacial, orgulho americano e reflexo maior de seu poderio, estava em declínio; então, numa jogada de relações públicas, decidiu-se convocar um civil para a missão.

Não qualquer um. O então presidente Ronald Reagan, um gênio da comunicação, prometeu um professor, a ser escolhido em concurso acompanhado na imprensa por milhões. Foi uma espécie de proto-reality-show até que se chegasse a McAuliffe, de 37 anos, mãe de dois, professora de estudos sociais no ensino médio em uma escola no estado de New Hampshire.

A "americana comum" era alguém determinada, simpática e que falava bem em público. Com ela, o público se reconectaria com a Nasa na crença de que o espaço poderia ser acessível para todos.

A escolha de McAuliffe tampouco era o único ineditismo na missão. Seriam duas mulheres entre os sete tripulantes (a outra era a engenheira Judith Resnik, de 36 anos); havia um astronauta negro, Ronald McNair, que cresceu em uma Carolina do Norte segregada; e outro de ascendência asiática, Ellison Onizuka, nascido um ano após acabar a guerra na qual o Japão era o inimigo maior.

O capitão Dick Scobee, o piloto Michael J. Smith e o especialista Gregory Jarvis eram igualmente carismáticos. Era o grupo perfeito para cativar o país. Vê-lo explodir no ar, após meses acompanhando ao vivo seu treinamento, foi um choque para o público.

Outra razão para a longevidade da tragédia na memória coletiva são as teorias conspiratórias, que o documentário alimenta. A Nasa sabia dos riscos no lançamento, enfatizado repetidamente; havia problemas nos propulsores, como alegaram engenheiros, e a chance de algo sair errado não era pequena, segundo os entrevistados pelo documentário.

Houve investigações, mas erros conscientes foram afastados como hipótese; o documentário sugere que isso ocorreu para preservar uma instituição cara aos EUA (financeira e ideologicamente).

Finalmente, há a TV. Transmissões ao vivo eram mais raras, e a imagem da nave subindo, com seu rastro de fumaça que de repente se transforma numa bola e se divide em dois, deixou espectadores —incluindo parentes dos astronautas no lançamento— minutos sem entender. Ver esse momento pelos olhos do público presente é tristíssimo e remete à descrença de quem viu na TV um avião atingir um prédio em 11 de setembro de 2001.

"Voo Final" faz um bom trabalho em investigar causas e homenagear as vítimas, em que pese algo de ufanismo. De certa forma, resgata uma era política mais ingênua e otimista, quando dificuldades pareciam superáveis e possibilidades, multiplicadas pela ciência.

Isso também explodiu.

"Challenger - Voo final" está disponível na Netflix

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