Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona

'O Psiquiatra ao Lado' traz Will Ferrell como paciente dominado por terapeuta

Carisma do ator é capaz de imprimir ternura e credulidade mesmo nas cenas mais agoniantes

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Will Ferrell já havia dado mostras de seu talento para o drama em "Mais Estranho que a Ficção", de 2006. Egresso do humorístico americano "Saturday Night Live", porém, o protagonista de "O Âncora", "Festival Eurovision" e outras comédias escrachadas se tornou muito mais conhecido por seu talento para fazer rir.

Agora, ele pode exibir sua latitude tragicômica para um público mais amplo na engenhosa "O Psiquiatra ao Lado", minissérie da Apple que ele estrela ao lado de Paul Rudd e que teve os três primeiros episódios disponibilizados pela plataforma na sexta (12) —os outros cinco irão ao ar semanalmente às sextas.

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Paul Rudd espia por trás de persiana com o rosto de Will Ferrell estampado em imagem de divulgação da série 'O Psiquiatra ao Lado', do Apple TV+ - Divulgação

Neste misto de drama e comédia que parece uma história de amadurecimento às avessas, Ferrell é Marty, um comerciante que acaba de assumir a loja de tecidos do pai. Após algumas crises de pânico, ele é persuadido a procurar tratamento pela irmã, Phyllis (Kathryn Hahn, de "WandaVision", sempre incrível).

Assim, acaba no consultório de Ike (Rudd), um psiquiatra heterodoxo que se dispõe a torná-lo mais assertivo.

O que se vê daí em diante é uma conturbada relação de 30 anos entre paciente e terapeuta, na qual Ike, a pretexto de fazer com que a boa vontade de Marty seja menos usada pelas pessoas, passa ele mesmo a explorá-la, agindo como uma espécie de tutor e se enraizando em todos os aspectos da vida do tutelado —e cobrando por hora, claro. ​

O carisma de Ferrell, capaz de imprimir ternura e credulidade mesmo nas cenas mais agoniantes, já seria um trunfo.

Mas Rudd, que nos últimos anos passou a ser reconhecido como "namoradinho da América" por sua aparência perpetuamente jovem em contraste com seu gosto por papeis exóticos ("Homem-Formiga"), constrói um vilão insuspeito, crente das próprias virtudes, e por isso insidioso.

O texto da britânica Georgia Pritchett, que já frequentou a sala de roteiro de "Veep" e "Succession", é permeado de referências à cultura judaica, religião dos protagonistas, e às particularidades da psicoterapia e da intimidade construída nos consultórios. São temas caríssimos a Woody Allen, assim como a ambientação em Nova York, e é curioso ver como roteiro e direção escapam da tentação de emulá-lo para criar um universo próprio.

As relações familiares, nossa satisfação com a própria vida e as aspirações que escolhermos perseguir, as dúvidas e dívidas que construímos com os outros e a nossa própria capacidade de amadurecer mais do que de meramente funcionar como um ser humano adulto, além de nossa expectativa por soluções mágicas e respostas prontas, são examinados com sutileza conforme os capítulos —e os problemas de Marty — avançam.

É uma minissérie que transita entre o passatempo e os insights perturbadores com naturalidade, e por isso talvez desagrade os que preferem um ou outro. Para quem gosta das contradições humanas em todo seu esplendor, é um prato e tanto.

Os três primeiros episódios de ‘O Psiquiatra ao Lado’ estão no Apple TV+, com novos capítulos às sextas

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