Longe das câmeras desde 2018 por causa da pandemia e de um câncer agora em remissão —a alta veio no ano passado, após quimioterapia e Covid—, Jeff Bridges está de volta ao papel que enverga sem esforços, o do outsider, na boa "The Old Man" (Star+).
É difícil, aos 72, apresentar uma novidade em sua carreira. Filho de atores, desde moleque diante das câmeras, Bridges já deu as caras em quase todo tipo de filme, do cult ao romance mais adocicado; do western à ficção científica, de modo que seus outsideres são de uma gama vasta, do empedernido ao que carrega um coração mole.
De certa forma, contudo, suspense de ação criado por Robert Levine e Jonathan E. Steinberg (de "Black Sails", sobre piratas) consegue o feito.
O fugitivo da CIA Dan Chase, a quem Bridges dá vida, tem o rosto vincado do septuagenário que é, mas suas habilidades e sangue frio fazem inveja às de muito herói juvenil.
Não poderia estar mais distante do papel que o consagrou, do inefável maconheiro Dude, ou "o cara", em "O Grande Lebowski" (1998).
É Bridges, que vive seu primeiro herói-de-ação-estilo-pancadaria tardiamente, que carrega a série —de outra forma um suspense bem arranjadinho, mas pouco memorável.
Chase está sendo perseguido (sim, "chase" significa perseguição em inglês, a série sofre de excesso de literalidade) por assassinos pagos, alguns deles pelo governo americano, 30 anos após o episódio que o levou a viver como foragido.
Nesse ínterim, ele perdeu a mulher, fugitiva como ele, e mantém contato apenas telefônico com a filha adulta, a quem tenta esconder de seus inimigos, num enredo que pinta a violência bruta com tons geopolíticos e a mistura com dramas familiares.
Em que pesem as boas (e muitas) sequências de ação, o que dá graça a "The Old Man" é sua contestação de que a velhice signifique alguma forma de inaptidão. Chase é tratado com escárnio pelo médico e com comiseração pela filha, como se apenas o casal de cães de ataque que cria soubesse do que é capaz.
Seu renascimento como anti-herói, de repente em fuga e dissimulação após ter acompanhado, tal qual guardião, a lenta decadência da mulher, Abbey (Hiam Abbass, a Marcia de "Succession" em uma interpretação magnífica), também assinala essa fase da vida como uma de reinvenções, um espelho à história recente do próprio Bridges.
Há ainda no elenco o igualmente veterano (porém subestimado) John Litgow, como o ex-diretor da CIA que se vê obrigado a voltar da aposentadoria para perseguir seu antigo alvo e estabelece com ele uma relação de "frenemy".
Não é uma série que trate o envelhecer com a mesma graciosidade e humor que "O Método Kominsky", "Gracie and Frankie" ou "Hacks" —todas protagonizadas por galãs e divas de outrora.
Ainda assim, a ação explosiva injetada em "The Old Man" e os tantos contratempos de saúde que afetaram a filmagem colocam mais uma camada, menos explorada pela dramaturgia, na forma de enxergamos a velhice. Fazê-lo a partir de seus potenciais em vez de encará-la por seus limitadores.
Os sete episódios de "The Old Man" estão disponíveis no Star+
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