Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona

'That 90's Show' não vale nem para aplacar nostalgia

Sitcom usa fórmulas vencidas e não valoriza personagens que deram origem

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As expectativas eram muitas, ao menos para os fãs de "That 70's Show", e a série-filhote "That 90's Show", que estreou na Netflix no fim de janeiro, fracassou em cumprir cada uma delas.

Sim, claro, há a alegria momentânea de rever personagens queridos 25 anos depois, mas ela se dissipa tão logo eles entram em cena sem um fiapo de história e, na maioria dos casos, somem em seguida. Parece faltar algo à série (um roteiro? personagens consistentes? uma ideia nova? o espírito do tempo?), e a nem a nostalgia é suficiente para preencher essas lacunas.

Vejamos: estamos em 1995, época em que o grunge bombava, e o porão de Red e Kitty Forman (Kurtwood Smith e Debra Jo Rupp) anda vazio desde que Eric (Topher Grace, que continua com a mesma cara) e seus amigos viraram adultos e saíram de casa coisa de 20 anos antes.

Nessas duas décadas, o garoto nerd e sarcástico de Point Place, Wisconsin, se casou com a namorada de adolescência, Donna (Laura Prepon), teve uma filha, Leia (Callie Haverda) e deixou a cidadezinha interiorana, embora seus amigos Kelso (Ashton Kutcher), Jackie (Mila Kunis) e Fez (Wilmer Walderrama) tenham continuado lá.

Não há menção a Hyde, o garoto-problema do grupo: seu intérprete, o ator Danny Masterson, responde a acusação de estupro na Justiça, e os roteiristas parecem ter achado mais fácil simplesmente extirpar o personagem do que dar algum desfecho digno à sua história.

elenco da série 'That '90s Show'
O elenco da série 'That '90s Show', da Netflix - Patrick Wymore/Netflix

É Leia (a de camisa jeans na foto acima) quem vai reocupar o porão e povoá-lo de novos amigos em sua jornada para deixar de ser uma adolescente pouco segura de si. E aí acaba a nostalgia, já que a série não consegue realmente se conectar aos anos 1990 para além das camisas xadrezes como sua antecessora se conectava aos 1970, inclusive com referências a outras produções.

Na verdade, as únicas coisas que remetem aos anos 1990 são o estilo de humor e a decisão de filmar a série com múltiplas câmeras e risadas da plateia, o que resulta na proeza de simultaneamente soar datado para uma produção atual e fake para uma série de época.

Os amigos de Leia seguem os arquétipos do sexteto original, com um interesse amoroso para a protagonista, uma melhor amiga amiga rebelde, um casalzinho que não para de se pegar e um amigo de ascendência estrangeira e comportamento meio dândi. Nenhum deles tem o charme dos atores do original, que viram suas carreiras decolarem com a sátira aos anos 1970.

Muitos dos espectadores que assistiram à série original e agora voltam para acompanhar seu desdobramento foram adolescentes na época retratada pelo spin-off e pouco encontrarão ali para avivar as memórias. Por outro lado, os adolescentes de agora dificilmente terão paciência para as piadas obsoletas e as risadas de claque.

É como se a produção, assinada pela dupla responsável por "That 70's Show", Bonnie e Terry Turner, e pela filha do casal, Lindsay Turner, tivesse se perdido no tempo e no espaço, sem saber a qual geração acenar.

Os 10 episódios de "That 90's Show" estão disponíveis na Netflix, e a segunda temporada foi encomendada

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