Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Em 'Mo', na Netflix, comediante palestino faz graça a partir da tragédia

Série criada por Mo Amer e Ramy Youssef desmonta preconceito em meio a risadas

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O comediante Mo Amer se descreve como um "produto da falta de Estado e de deslocamentos e guerra contínuos" que usa sua arte para lidar com a dor. Palestino nascido no Kuwait, Amer emigrou para os EUA fugindo da primeira Guerra do Golfo, aos 9 anos. Conjugar a tristeza resultante dessa história a humor é uma façanha, e o resultado merece ser visto na série que leva seu nome, "Mo", disponível na Netflix.

A primeira temporada não é nova, foi lançada em meados do ano passado, e a segunda, contratada, ainda está por vir. Em um momento no qual se assiste a demonstrações crescentes de islamofobia e de antissemitismo, contudo, "Mo" pode trazer uma luz bem-vinda sobre preconceitos arraigados.

Para começar, a série é curta e cáustica —duas coisas pouco comuns no streaming hoje. São oito episódios de até 30 minutos, e ninguém precisa de um mestrado em relações internacionais para entender o contexto nem achar graça do texto de Amer e do premiado humorista nova-iorquino Ramy Youssef, ainda que entusiastas do tema encontrem especial sabor ali.

Mo, um homem palestino alto e pesado de cerca de 40 anos, usa camiseta larga e boné amarelo; ele conversa com  um homem mais velho branco, de chapéu e cinto de caubói, jeans e camisa xadrez, diante de um centro comercial em um dia de sol
Mo Amer e Rutherford Cravens em cena da série 'Mo', disponível na Netflix - Rebecca Bernneman/Divulgação

A história de seu personagem, o refugiado Mo Najjar (sim, Mo é apelido para Mohammed aqui), não difere muito da do humorista. Também palestino nascido no Kuwait, também emigrado para os EUA com mãe e irmãos, também vivendo de bicos. De diferente do autor, o alter ego nas telas só não tem seu refúgio reconhecido.

Mo (o fictício) vende tranqueiras falsificadas, mora na casa da mãe e tem uma namorada mexicana (a ótima Teresa Ruiz), o que proporciona uma quantidade infinita de piadas inteligentes com estereótipos raciais e nacionais.

Sim, elas existem e não são ofensivas, mas sabe-se empiricamente que não é qualquer um que consegue criá-las.

O humorista não volta seu sarcasmo apenas aos costumes árabes, palestinos, muçulmanos, judeus, católicos, mexicanos. Ao situar sua série na texana Houston, um cenário sem grandes apelos visuais e culturais, ele também abre a janela para uma profusão de chistes ferinos com os americanos e seu olhar voltado ao umbigo (em um dos episódios, um diálogo engraçadíssimo se dá diante da definição de ‘assassinato em massa’, algo tristemente corriqueiro).

Amer faz graça de sua dor, sem diminuí-la —uma ferramenta, aliás, notabilizada pelos grandes comediantes judeus. Mas a tristeza, as dificuldades e as agruras de alguém que se descreve como ele estão ali sem muito disfarce, e é bom que as vejamos.

Não são, na maioria dos momentos, tão diferentes daquelas enfrentadas por tantos outros, o que torna seu Mo um personagem muito identificável e colabora sem insistência para dirimir preconceitos.

Ele diz que procura produzir algo que trate de situações reais, e, portanto, significativo e com impacto positivo. É um jeito de rir sem pudores da desgraça própria e alheia, o que o coloca nas filas de gente como Louis C.K. e Ricky Gervais, mas com um ponto de vista bem distinto e ao qual se dá pouca atenção.

Os oito episódios da primeira temporada de ‘Mo’ estão na Netflix, e a segunda e derradeira foi anunciada sem data

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