Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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'A Queda da Casa de Usher' faz com Edgar Allan Poe sopa de letras saborosa

Faltam sustos mas sobra poesia no novo terror de Mike Flanagan

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Na avalanche de produções pouco discerníveis para o streaming, Mike Flanagan conseguiu criar, em poucos anos, uma marca própria e facilmente reconhecível atendo-se a um gênero subvalorizado e incorporando referências e reverências de outras eras geológicas da produção cultural.

O que é um enorme trunfo para o roteirista e diretor americano, contudo, tem seus reveses. A forte identidade de seus trabalhos cria não só expectativas, mas algum grau de previsibilidade. Esse paradoxo fica claro em "A Queda da Casa de Usher", série derradeira de um ciclo bem-sucedido com a Netflix.

No caso em questão, pesa a escolha de costurar em oito episódios obras diversas de Edgar Allan Poe, cânone do terror já revisitado por centenas de dramaturgos, diretores e escritores e cuja produção é mais conhecida ainda que a de Shirley Jackson (adaptada por Flanagan em "A Maldição da Residência Hill") e Henry James, cujos contos inspiraram a "Maldição da Mansão Bly".

Talvez por isso, até, as referências a Poe se empilham de forma extenuante —quase não há personagem na série cujo nome não tenha sido criado pelo papa do romance gótico nos Estados Unidos, e como se não bastassem títulos de livros e contos escolhidos para batizar cada um dos oito episódios, outros muitos surgem em diálogos (vide "O Barril de Amontillado").

Não se trata demérito. "Casa de Usher" é, na sua colagem de citações, divertidíssima. Ainda que o suspense seja menos efetivo que de "Residência Hill". Afinal, o mecanismos dos sustos já se tornou conhecido demais, há toques deliciosos, como poemas inteiros de Poe declamados de forma belíssima pelos protagonistas.

Para alinhavar tanta coisa, Flanagan parte do conto que titula a série e narra a história de dois irmãos —Roderick e Madeline (Bruce Greenwood e Mary McDonnel no presente, e Zack Gilford e Willa Fitzgerald no passado— que, ao enriquecerem, acumularam alguns esqueletos no armário.

É Roderick quem relata ao detetive Auguste Dupin (Carl Lumbly), um personagem seminal de Poe que inspiraria todos os detetives literários depois, a história das mortes abruptas de seus seis filhos, em sequência, como um "Sucession" do mundo bizarro de muitos decibéis a mais. E, entre flashbacks e visões, os "easter eggs" e signos tão presentes na obra de Poe abundam.

Além dos rostos repetidos no elenco (Carla Gugino, Kate Siegel, T'Nia Miller e Henry Thomas não poderiam faltar), estão lá novamente a direção de arte esmerada e a fotografia deslumbrante, desta vez incisivamente calcada no uso das cores, elevadas na história a representações de males e pecados associados a cada membro da família.

Com um aceno a "Frankenstein", de Mary Shelley, aqui na forma da jovem segunda mulher de Roderick (Ruth Codd), Flanagan também deu, à sua maneira, um quê de atualidade social: fez dos gêmeos magnatas fabricantes de opioides, os vilões onipresentes nas produções de hoje. E quem diria, o pirata Pyn, espécie de alter ego de Poe, ganhou a cara de Mark Hamill e virou... advogado.

Oito episódios de aproximadamente 1 hora; disponível na Netflix

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