Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Luciana Coelho
Descrição de chapéu Maratona Todas machismo

'Uma Questão de Química' diverte e comove ao polvilhar feminismo com açúcar

Série com Brie Larson adapta best-seller sobre cientista frente ao sexismo nos anos 1950

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Uma Questão de Química

Brie Larson em arte de divulgação de 'Uma Questão de Química', do Apple TV+ Divulgação

Quando foi lançado, em março de 2022, "Uma Questão de Química", livro de estreia da publicitária Bonnie Garmus, logo virou best-seller. Traduções pipocaram em mais de 30 países, resenhistas aplaudiram, e jornalistas compararam as intenções da autora à de sua personagem central.

Passado um ano e meio, chega à Apple TV a versão adaptada para as telas, e a dúvida original sobre a obra persiste. É uma comédia? Um romance? Uma jornada de herói? Um libelo feminista? Um comentário político? Ou pura e plena diversão?

Depende, e essa é a graça da coisa. Tal qual sua protagonista, a química Elizabeth Zott, "Uma Questão de Química" não se prende a arquétipos, mas é diligente em seu propósito de expor uma sociedade machista na qual as oportunidades para mulheres custam muito, muito mais caro.

No papel central está Brie Larson (de "Capitã Marvel" e "O Quarto de Jack", um combo que ilustra também a ideia da protagonista da vez). É pela sua percepção —pragmática, metódica e brilhante em sua lógica retilínea— que somos introduzidos no ambiente acadêmico americano dos anos 1950, onde às mulheres cabia, quase exclusivamente, o papel de secretária.

Embora à primeira vista Zott pareça uma versão remodelada de Betty Draper, a inefável mulher de Don Draper vivida por January Jones em "Mad Men", o que temos em cena é uma rara representação de mulher autista com nível menor de suporte, ainda que isso não seja dito na série.

E temos, também, uma profissional ambiciosa e uma química traumatizada por um episódio de agressão sexual.

Garmus e o showrunner Lee Eisenberg (egresso de "The Office" e outros sucessos) são cuidadosos em respeitar a caracterização da época em que a série se passa, com uma direção de arte impecável e uma meticulosa pesquisa sobre o desenvolvimento científico naquele momento.

Não por isso a série soa anacrônica ou inatual —exatamente por esse motivo, aliás, dói ver que partes da dinâmica sexista denunciada em cena seguem vivas até hoje.

Zott, em seu distanciamento de determinados padrões sociais, rejeita a ideia de casamento, evita enturmar-se com as demais mulheres da universidade e dedica 100% de sua atenção no local de trabalho à pesquisa. Em casa, onde vive só, seu passatempo é executar receitas elaboradas com rigor científico.

Há um interlúdio de romance com um colega igualmente brilhante (Lewis Pullman, filho/clone de Bill Pullman), que culminará em novos obstáculos para a insólita heroína. Dispensada por gente incapaz de enxergar seu talento, ela acabará à frente de um programa culinário de TV, alçada pela aparência impecável.

Desgostosa do ambiente mas ciente do poder de influência que ele confere, Zott rapidamente agarra a oportunidade para instruir os milhões de mulheres que lhe dão audiência em algo bem mais complexo que receitas elaboradas: enxergarem seu real valor.

Novos episódios de 'Uma Questão de Química' são lançados às quintas na Apple TV (quatro dos oito já estão disponíveis); o livro homônimo foi publicado no Brasil pela editora Arqueiro

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