Luiz Horta

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Luiz Horta

Francês infalível, Ici Bistrô tem longevidade para celebrar em São Paulo

Restaurante foi o vencedor do especial O Melhor de sãopaulo Restaurantes, Bares & Cozinha

São Paulo

 A comida francesa na cidade vai bem, “merci” (como comprovou esta revista em O Melhor de sãopaulo Restaurantes, Bares & Cozinha).

Quando morava perto do Pacaembu, o Ici Bistrô era meu restaurante de casa, era lá que marcava reuniões, degustações, usava como sala de visita. ​

Lembro de ótimos jantares com produtores que lá passaram, como Jean-Guillaume Prats (então do Cos d’Estournel) escolhendo raia para acompanhar seu vinho, um bordozão. 

Sempre gostei de chegar a restaurantes no exato momento em que abrem, dá para assistir a um pouco da tensão final antes da função.

Um guardanapo que faltou, o polimento de taças, e também observar a comédia humana da chegada dos comensais.

Não vou ao cinema, prefiro uma mesa de canto de onde se veja todo o salão, é diversão garantida.

Presenciei o aperfeiçoamento até a perfeição do steak tartare, do pain perdu. 

Então me mudei. O Ici ficou longe, deixou de ser alcançável a pé.  

Deu saudade do lugar, não da minha vida ali, não sou nostálgico, o tempo de Pacaembu passou, gosto mais das memórias dos outros, como as de Proust. Mas precisei celebrar essa longevidade de um bistrô infalível.

E comi bem. Nessa década e meia de existência, não só o Ici ficou redondo, como a oferta de produtos melhorou. Os queijos da Serra das Antas me satisfazem muito.

O pont l’éveque e o reblochon são extraordinários. O truque é comprar e terminar de afinar em casa, eles vendem queijos um pouco ao gosto brasileiro, levemente antes da hora perfeita de consumo.

Eu compro, deixo passar um bom tempo até que fiquem de massa pastosa, aromáticos. Brinco que estão no ponto quando começam a andar e falar.

Comi a maravilhosa costela com azeitonas, e a grande tarte tatin, que já foi tema desta coluna. Bem queria um Ici para alcançar a pé.

Ici Bistrô

r. Pará, 36, Higienópolis, tel. 3257-4064. Seg. a qui., das 12h às 15h e 19h à 0h; sex., das 12h às 15h e das 19h30 à 0h30; sáb., das 12h30 às 16h e das  19h30 às 0h30; dom., das 12h30 às 17h 

Nova geografia

Não escolhi nada que exatamente combine com o que comi no Ici Bistrô. Aproveitei 
para selecionar algumas garrafas provadas recentemente e que me agradaram.

Curiosamente, três são da uva pinot noir, que alcançou seu auge e sua celebridade na Borgonha, 
logo, na França.

Mas o mundo dos vinhos não parou de crescer e eis que surgem pinots do Chile, da Alemanha (sim, a terra do riesling, mas o aquecimento global tem aprontado no norte da Europa, a piada é que, no futuro, Bordeaux será na Escócia...). 

É uma uva que tem me encantado em diferentes versões, da austera Pisador até a festiva do Pipeño Cacique Maravilla.

A La Causa del Itata fica no meio caminho, é um vinho cativante e combinou bem com a costela do Ici. Marques de Casa Concha, parte da gigante Concha y Toro, está fazendo dois pinots, um mais ao norte e outro mais ao sul do Chile.

Gostei dos dois, e é uma boa aula de geologia e geografia compará-los —aqui aponto o de Limarí. E o refinado Kalfu Molu, da Viña Ventisquero no vale chileno de Leyda. 

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