Luiza Duarte

Correspondente na Ásia, doutora em ciência política pela Universidade Sorbonne-Nouvelle e mestre em estudos de mídia pela Universidade Panthéon-Assas.

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Como Hong Kong administra tempestades?

Território chinês conseguiu conter estragos investindo em prevenção de enchentes

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Chove há seis dias. A estação das chuvas no sul da China não esperou pelo mês de maio e deve se estender até setembro. Hong Kong é uma das cidades mais densamente povoadas e mais chuvosas do mundo. A precipitação anual chega a 3.000mm. Além das tempestades, pelo menos seis tufões atingem esse território, todos os anos.

Mesmo assim, os investimentos em mecanismos de prevenção integrados ao design urbano levaram a uma drástica redução das inundações, que passaram de 90 registradas em 1995 para apenas sete em 2017.

O governo neutralizou grandes áreas de enchentes, mantém abrigos para tufões e retira com eficiência moradores de áreas de risco, como vilarejos de pescadores.

Mulher anda em rua destruída pelo tufão Mangkhut em Hong Kong
Mulher anda em rua destruída pelo tufão Mangkhut em Hong Kong - Philip Fong - 17.set.18/AFP

Mais de três dezenas de tufões atingiram Hong Kong entre 2007 e 2017, provocando ao todo 12 vítimas fatais na década. Apesar da passagem de ciclones tropicais, são raros nesse período episódios em que o abastecimento de água e luz é afetado ou em que bairros fiquem submersos, como acontece em áreas vizinhas na China continental ou em Macau.

Há pelo menos duas décadas não há registros de deslizamentos que tenham provocado diversas mortes. As montanhas são endereço nobre, ocupado por prédios e casas milionárias. Um sistema para conter deslizamentos foi criado no final dos anos 1970 e um alerta especial foi implantado em 1983, levando a uma redução de 75% nos riscos, de acordo com Departamento de Engenharia Civil e Desenvolvimento.

Já o sistema de alertas de tempestade está ativo desde o final dos anos 1990. Elas são classificadas em três níveis de intensidade: âmbar, vermelho e preto. Mensagens via celular são enviadas informando horários e locais que serão mais afetados e como a população deve proceder. O alerta é sinalizado nas ruas e pelos veículos de comunicação.

As encostas concretadas estão em toda parte, mas soluções ecológicas são o novo foco. O governo quer um “sistema de drenagem sustentável”, seguindo o conceito de “cidade esponja”. A vasta rede de túneis que intercepta a água da chuva está sendo atualizada. O terceiro tanque subterrâneo para controle de enchentes foi inaugurado no ano passado. O planejamento de longo prazo é a regra.

O objetivo não é só a drenagem, mas a captação, absorção e reutilização das águas pluviais, o que gera melhor aproveitamento do recurso e economia. O maior reservatório subterrâneo da cidade, Tai Hang Tung, pode armazenar 100 mil metros cúbicos de água, o equivalente a 40 piscinas olímpicas. Apesar de faltarem árvores no centro urbano, a ocupação do território ficou restrita a uma pequena zona, dois terços da área de Hong Kong são cobertos por vegetação.

A canalização de rios urbanos deve dar lugar lentamente a integração de cursos d’água tratados em parques. Espaços precisam ser repensados. Construções estão integrando telhados verdes, solos permeáveis, jardins de chuva e até lagos artificiais. O governo fala em política de adaptação e combate à mudança climática. Singapura e Taiwan, onde o volume de chuva é semelhante, seguem as mesmas diretrizes.

Mudança climática

Mesmo já tendo um avançado sistema para lidar com tempestades, o governo começa a se preparar para uma nova realidade.

Autoridades temem que a capacidade da infraestrutura existente não seja suficiente para lidar com o aumento do nível do mar, com tempestades e tufões mais intensos e cada vez mais frequentes, devido  à mudança climática.

O ano passado foi o terceiro consecutivo de recorde de calor em Hong Kong. O volume de chuva vem aumentando 37 mm por década.

Em 2018, o tufão Mangkhut foi o mais forte a atingir a região desde que o registro foi criado, em 1946.

No próximo mês, será testado um novo sistema de defesa contra tempestades, que inclui alerta para ondas. Pela primeira vez, quebra-mares flutuantes vão ser instalados para tentar proteger a costa. Áreas abaixo do nível do mar vão receber avisos com antecedência de 24 horas e vistorias da Defesa Civil.

A China abriga outras cidades extremamente vulneráveis à mudança climática. Segundo um estudo do Banco Mundial, Cantão, terceira maior cidade chinesa, e Shenzhen, cidade vizinha a Hong Kong, estão entre as dez megacidades costeiras mais expostas do mundo aos efeitos das transformações do clima.

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