Luiza Duarte

Correspondente na Ásia, doutora em ciência política pela Universidade Sorbonne-Nouvelle e mestre em estudos de mídia pela Universidade Panthéon-Assas.

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Luiza Duarte
Descrição de chapéu Previdência

Capitalização transforma Hong Kong em caso de estudo sobre pobreza na velhice

No território chinês, um terço das pessoas abaixo da linha da pobreza são idosas

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A Ásia envelhece a passos rápidos. O número de pessoas com mais de 65 anos em Hong Kong deve dobrar até 2036, representando mais de 30% da população.

O território chinês tem uma das taxas de fertilidades mais baixas e uma das expectativas de vida mais altas do mundo, ao lado do Japão e Singapura. Em média, mulheres vivem 87 anos, enquanto homens chegam aos 81 anos.

Por aqui, vive-se mais e pior.

Chineses idosos participam de aula de dança
Chineses participam de aula de dança no Centro Comunitário Yanyuan para Cidadãos Idosos, na periferia de Pequim; governo de Hong Kong incentiva seus aposentados a se mudarem para a China continental - Eva Xiao - 5.dez.2018/AFP

Desde os anos 2000, o sistema de contribuição privada obrigatória para aposentadoria foi regulamentado.

Não há pensão universal, idosos podem solicitar ajuda financeira, ter descontos e esperar por alguns anos uma vaga em um asilo público.

Hoje, uma em cada 5 pessoas em Hong Kong vive abaixo da linha da pobreza, apesar de uma economia que cresce e uma taxa de desemprego baixa. A miséria atinge em especial os idosos.

Hong Kong é um caso de estudo sobre pobreza na velhice.
 
Com o modelo de capitalização e proteção social insuficiente, um terço das pessoas em situação precária são idosas.

A idade de aposentadoria para homens e mulheres é 65 anos, mas poucos podem parar de trabalhar. Eles são porteiros, catadores de papel, profissionais de limpeza, vendedores e taxistas.
 
Grande parte precisa ainda assim viver com a família, como manda a tradição chinesa. Prática que tem se tornado cada vez mais insustentável devido ao alto custo de vida do território.

O auxílio do governo, menos de R$ 1.970 (HK$ 4.000) por mês, é insuficiente para pagar um aluguel na cidade com o mercado imobiliário mais caro do mundo —mal paga transporte, alimentação e remédios.

 A esse cenário de descaso e abandono, soma-se um limitado acesso a serviços de saúde mental. A taxa de suicídio entre os idosos é o dobro da registrada em qualquer outra faixa etária, de acordo com dados do Centro de Pesquisa e Prevenção ao Suicídio, da Universidade de Hong Kong. 
 
O governo se defende das estatísticas dizendo que o relatório sobre a pobreza no território (Hong Kong Poverty Situation report) leva em conta renda e não bens.

A solução paliativa defendida pelo governo é encorajar que aposentados se mudem para a China continental, onde o custo de vida e expressivamente menor. O território tem acordo com províncias chinesas vizinhas para que idosos possam receber benefícios do outro lado da fronteira.
 
Tida como modelo do neoliberalismo, o paraíso fiscal hoje gasta em proteção social praticamente o dobro do que gastava em 2009. O desafio demográfico, que também é uma realidade na China continental e em outros países asiáticos, gera pressão sobre o sistema de saúde e faz proliferar asilos privados.
 
A necessidade de expansão de benefícios sociais para combater a alarmante taxa de desigualdade social e para garantir condições dignas na velhice vem sendo debatida em Hong Kong.

Porém, na última consulta sobre uma reforma da Previdência, o modelo de aposentadoria universal foi novamente descartado.

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