Luiz Felipe Pondé

Escritor e ensaísta, autor de "Notas sobre a Esperança e o Desespero" e “A Era do Niilismo”. É doutor em filosofia pela USP.

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Luiz Felipe Pondé

O ceticismo deve ser praticado com disciplina, como boxe ou violino

Quando aplicado sistematicamente, pode até virar uma segunda natureza e ser aplicado em áreas como moral, religião e política

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O desafio do cético não é a dúvida, mas a confiança. A disciplina cética, quando praticada sistematicamente, torna-se uma segunda natureza, como dizia o grande Aristóteles acerca da virtude praticada ao longo da vida.

O ceticismo é uma disciplina, não um surto depressivo. Como tocar violino, lutar boxe ou jogar tênis. O ceticismo pode ser praticado em diversas áreas do conhecimento e da vida em geral: na ciência, na moral, na religião (o caso mais fácil), na política, na geopolítica.

Vejamos o caso da política, ou seja, o território da violência e sua organização institucional.

A ilustração figurativa de Ricardo Cammarota foi executada em técnica mista manual com tinta aquarela chapada e acabamentos manchados com traços grossos e texturas em bastão de pastel oleoso preto. E outros efeitos, traços e bolinhas coloridas em photoshop.  A imagem está numa linguagem quase abstrata - mostra uma figura bem estilizada de rosto, 2 olhos desalinhados, dois braços e mãos abertas. Ao centro, entre os dois olhos, duas formas estilizadas de escadas e tortas se encontrando no centro da ilustração. Muitos traços, esfumados em preto, cores de fundo: laranja, beje, azul turquesa e magenta.
Ilustração de Ricardo Cammarota - Ricardo Cammarota

Bolsonaro é um louco perverso. O PT foi eleito —uma vitória bem apertada— sob a sigla da defesa da democracia. Há elementos que reforçam a percepção de que o PT aceitou o jogo democrático institucional quando o Lula, por exemplo, foi preso. Porém, o PT sempre foi um partido autoritário.

Pense. Qual partido ou candidato da esquerda teria qualquer chance de levar uma eleição para presidente? Nenhum. O PT reina hegemônico —e o Lula no centro dele— na esquerda e não cede espaço.

Exemplo disso foi quando negou espaço ao candidato Ciro Gomes em 2018, quando este tinha alguma chance de derrotar o Bolsonaro. Preferiu entregar o país na mão de um psicopata a deixar espaço para uma possível outra estrela da esquerda brilhar.

O caráter autoritário do PT se manifesta, também, no exército de intelectuais, jornalistas e acadêmicos que trabalham para essa hegemonia no espaço da cultura, eliminando colegas que possam colocar em risco essa hegemonia.

É bem verdade que a burrice da direita em cultura ajuda o trabalho da esquerda. A direita no Brasil, quando entende de alguma coisa, não vai além da taxa Selic e de como fechou a bolsa de valores e o dólar.

Eleito, já começa a acossar a autonomia do Banco Central. A comissão parlamentar que recebe o encargo do Lula para fritar o presidente do Banco Central busca a submissão de um órgão de Estado –no caso, o Banco Central– ao interesse político partidário do mandatário da hora.

Tirar a autonomia do Banco Central é como submeter o STF a interesses ideológicos. A vocação do PT é levar o Brasil para políticas econômicas heterodoxas, produzir inflação, gastanças e populismo. Depois administrará o atraso a favor da máquina do Estado sob sua tutela, fazendo discursos emocionados.

O simples fato de que em duas eleições consecutivas para presidente –2018 e 2022– tivemos como opção de voto viável um psicopata e uma gangue, já atesta a validade do ceticismo e da falta de confiança em relação a operação política no país.

Mas temos outros exemplos de operação do poder no Brasil que dão razão aos céticos –um deles é a prática de se alinhar politicamente e ideologicamente de muitos agentes do poder judiciário nas redes sociais.

Um juiz não deve ter posicionamentos políticos e ideológicos. Sua função é responder quando acionado, dentro do poder da lei. Imagine o tamanho do poder que um juiz tem nas mãos. As prerrogativas e privilégios que caracterizam o exercício da função implica a demanda de uma vida quase monástica. Com o poder que tem, ainda quer ter o poder de fazer política?

O argumento de que como cidadão deve se posicionar só vale no ato de votar. Seu silêncio público acompanha seus privilégios de função.

Mas, infelizmente não é este o caso. Aliás, o fenômeno não é só nacional. O ativismo jurídico é um traço dos últimos anos em vários países do mundo. Egresso da elite, o poder judiciário é o poder mais poderoso da república. Vitalício, não reconhece, praticamente, nenhum freio ou contrapeso.

Entretanto, a autonomia do poder judiciário —alicerce da democracia como estado de direito— é fundamental. Isso significa, entre outras coisas, que essa autonomia depende da recusa de qualquer ativismo político. Juízes não devem ir a roda de samba com vencedores, nem defender derrotados nas redes sociais. Mais: nem deveriam estar nas redes sociais.

Sinto muito. Quer ser ativo nos debates políticos? Desista da carreira e seja um cidadão comum, coisa que você não é.

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