Luiz Weber

Secretário de Redação da Sucursal de Brasília, especialista em direito constitucional e mestre em ciência política.

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O julgamento de Moro

Ex-juiz da Lava Jato é paparicado no Senado, mas permanece sob observação de Bolsonaro

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Não é por descuido que se veste a camisa do Flamengo e se vai ao programa do Ratinho. Se um dia comparecer à Marcha para Jesus, Sergio Moro receberá a tríplice coroa do pré-candidato populista.

Ditado antigo diz que não se briga com homem de saia —os juízes e os padres. Político tem ainda um termômetro adicional: não trombar com uma liderança popular que pesca apoio em todos ambientes.

O ministro passeou no Senado na quarta-feira (19) porque a política opera no mercado futuro. E não porque não haja nas mensagens divulgadas pelo site The Intercept Brasil material para desgastá-lo. A massa não sovada murcha.

Moro é o polo magnético da Lava Jato. O prestígio e a memória da operação estão nele imantadas e dão ao ex-juiz um potencial político tremendo. Um Bolsonaro errático, freado por uma economia pífia, excita as imaginações sobre sua sucessão. E Moro virou a chavinha de juiz para o modo político há tempo.

Durante a sessão, um senador foi ao ponto: “Sr. ministro, parabenizo-o por tudo que o senhor fez. Nós devemos muito ao senhor. Eu só tenho esta observação: eu acho que foi um péssimo negócio o senhor ter saído dali como juiz para vir para o ministério. Nós tínhamos a esperança que, em 2022, o senhor viesse talvez como candidato à Presidência da República”, disse Vanderlan Cardoso (PP-GO). 

O bolsonarismo e o morismo se alimentam de uma mesma inquietude popular, mas são criaturas distintas. Impossível sair um híbrido funcional dessa conjunção. Em política, duas lideranças no mesmo ambiente interagindo produzem um jogo de soma zero. Se um ganha, o outro perde.

Moro não parece acreditar na teoria da terra plana ou na existência de um segundo atirador envolvido no assassinato de Kennedy. Nada indica que seja um defensor da prisão perpétua.

Bolsonaro, por sua vez, tem suas fixações. E a alta burocracia do governo já percebeu que não há argumento que traga o presidente à Terra (redonda) quando esse identifica um descasamento entre suas expectativas e a realidade. A demissão de Joaquim Levy da presidência do BNDES é o caso mais recente.

Poucas obsessões dominam mais Bolsonaro e seus filhos do que provar que a tentativa de assassinato do presidente foi orquestrada por uma força adversária poderosa – e não um ato solitário do inimputável Adélio Bispo.

Essa convicção presidencial é uma fatura espetada na testa de Moro. A Polícia Federal, subordinada ao ministro, indica que o atentado foi um gesto individual de um amalucado.

Quando for concluído o inquérito, se a tese presidencial não for comprovada, as redes bolsonaristas vão submeter o ministro Moro a um julgamento de exceção. Será Bolsonaro x Moro muito antes de 2022.

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