O futuro presidente da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), jornalista Hélio Doyle, disse em entrevista para a Folha que, se depender dele, os veículos da organização tratarão o impeachment de Dilma Rousseff (PT) como "golpe".
Em matérias opinativas, não há problema. Afinal, o evento gerou análises divergentes. Contudo, no noticiário factual, é um erro técnico.
O jornalismo é um processo de conhecimento, assim como a ciência, e mantém com ela semelhanças e diferenças. Ambos se baseiam em métodos profissionais que visam à aproximação mais objetiva possível da verdade —e objetividade tem a ver com o método, não com o sujeito.
É justamente por constatar que o sujeito não pode ser objetivo —pois possui crenças, valores etc.— que o método precisa ser. O modo como o jornalista ou o cientista chegou à dada constatação deve ser transparente, para que outros profissionais possam validá-la ou refutá-la. Ou seja, objetividade é intersubjetividade.
Assim, diversos veículos de imprensa cobriram a saída de Dilma Rousseff do poder, e a grande maioria deles atestou que o que se deu foi um processo de impeachment. Para isso, verificou-se, por exemplo, que a popularidade da presidente era baixíssima, que o rito seguiu as exigências legais, foi votado pelo Congresso e referendado pelo STF.
Se a EBC pretende chamar "impeachment" de "golpe", precisa deixar muito claro o método que usou. Precisa explicar por que Lula e o PT estão aliados a partidos e políticos que teriam sido responsáveis pelo tal "golpe". Precisa mostrar o erro cometido pelo ministro do Supremo que o validou. Mais importante, por se tratar de crime contra o Estado de Direito, a EBC tem de exigir que o STF julgue e puna os culpados por esse atentado à democracia.
Caso contrário, é só usar dinheiro público para divulgar fake news. Pior ainda, é usar uma empresa estatal, que deve servir à toda população brasileira, para servir a interesses políticos do governo. Nada mais antirrepublicano.
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