Em artigo sobre fake news, o pesquisador Marcos Palacios relata uma palestra de Ralph Pulitzer para alunos do curso de jornalismo da Universidade de Columbia —fundado em 1912 com o apoio de seu pai, Joseph Pulitzer, dono do jornal The World.
Ralph falou sobre a pressão terrível de trabalhar com 160 mil palavras escritas por 2.000 colaboradores, reduzidas para 60 mil por editores e impressas por 56 operadores de linotipos: "É desencorajadoramente grande a chance de imprecisões não deliberadas".
Não à toa, em 1913, o The World criou um pioneiro setor de checagem. No começo do século 20, surgem os primeiros códigos deontológicos e manuais técnicos do jornalismo.
Se a chance de imprecisão já é grande na comunicação impressa, o que dizer naquelas em tempo real, como TV ao vivo e internet?
O cuidado com a veracidade deve ser redobrado num ecossistema midiático acelerado que estimula cacofonia informacional, pressão pelo furo e guerra por clicks. A imprensa, porém, vem se deixando levar.
O recente fenômeno de apresentadores de telejornais que repassam em tempo real informações recebidas pelo celular, por exemplo, é um acinte ao método da checagem.
Tal prática prejudica não apenas o público e o alvo das inverdades, como o próprio jornalismo, que recebe a pecha de fake news.
De modo geral, pesquisas apontam que esse conceito designa informação falsa fabricada de modo deliberado com formato e distribuição que emulam a imprensa profissional —ou seja, não há correlação com falhas técnicas de jornalistas.
Mas, nos últimos anos, o termo foi apropriado pela ideologia, na direita e na esquerda, para atacar notícias que criticam políticas de governo. Desprezar a verificação de fatos abre flanco para esse tipo de discurso.
Profissionais e veículos não podem ser ingênuos e embarcar cegamente na onda sedutora de novas tecnologias. A boa e velha checagem ainda é o pilar fundamental dessa atividade essencial à democracia.
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