Lygia Maria

Mestre em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.

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Descrição de chapéu Todas machismo

Feministas de araque

Conceito de islamofobia é usado no Ocidente para ignorar opressão sofrida pelas mulheres no Irã

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"Deixa-me respirar longamente o odor dos teus cabelos e mergulhar neles o meu rosto, como um homem sedento na água de um manancial". Assim começa o poema "Um hemisfério numa cabeleira", de Charles Baudelaire, que faz uma ode ardente às madeixas de sua amada.

É antiga a relação do erotismo com o cabelo feminino e, por isso mesmo, também é ancestral sua interdição. Em Cântico dos Cânticos, no Antigo Testamento, lemos "Como és formosa, minha amada, teus cabelos são como um rebanho de cabras descendo pelas encostas de Gilead".

O trecho é citado na Halachá, a Lei Judaica, para atestar que o cabelo desperta desejo sexual. Judias ortodoxas usam lenços, toucas ou perucas. No Alcorão há a mesma conotação erótica e proibição com o hijab. Desde os primórdios do cristianismo, mulheres também cobriam a cabeça, não apenas para orar.

Vendedora espera clientes em loja de hijab em Kuala Lumpur, na Malásia - Lim Huey Teng/Reuters

A simbologia sexual sobre as madeixas femininas permeia religiões monoteístas. O problema é quando dogmas viram política de governo.

Ao contrário do catolicismo, que foi obrigado a se laicizar com a separação entre Estado e Igreja, o mundo islâmico contemporâneo se caracteriza em grande medida por teocracias que infringem direitos humanos, principalmente os das mulheres.

A onda de protestos no Irã, após assassinato de Mahsa Amini, mostra que as iranianas não suportam mais essa prisão moral.

A ativista Narges Mohammadi, laureada com o prêmio Nobel da Paz neste ano, está detida desde 2021 e, ao longo da vida, foi encarcerada 13 vezes e condenada a 31 anos de prisão e 150 chibatadas. Será julgada novamente, mas já disse que se recusa a participar de um tribunal farsesco.

Toda feminista deve se manifestar contra a opressão sofrida pelas iranianas. Contudo criticar teocracias islâmicas virou tabu, baseado na deturpação do conceito de islamofobia. Uma demonstração de que todas as liberdades conquistadas pelas mulheres no Ocidente resultaram em dogma ideológico e desdém pela ética. São feministas de araque.

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