Lygia Maria

Mestre em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.

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Descrição de chapéu América Latina

A falácia do golpe

Coalizões do PT com "golpistas" só comprovam que o que ocorreu em 2016 foi um processo legítimo de impeachment

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Golpe é coisa séria. Uma ruptura institucional repentina com a derrubada de um governo legítimo e a tomada do poder por grupos que não haviam sido designados legalmente para o comando do Estado.

Mas, para o PT, tal fenômeno parece ser banal. O partido ainda trata o impeachment de Dilma Rousseff como golpe, mas mantém alianças com quem teria contribuído para a tal quebra do regime democrático.

O atual vice-presidente da República apoiou o impeachment; Marta Suplicy, chamada por Lula para compor chapa com Guilherme Boulos, também. Coalizões com fins eleitorais são normais, mas golpeados unidos a golpistas? Imagino Salvador Allende, caso não tivesse morrido, em chapa com Augusto Pinochet.

A ex-presidente Dilma Rousseff durante julgamento final do processo de impeachment, no plenário do Senado em 2016 - Pedro Ladeira - 29.ago.16/Folhapress

Aqui surge o golpe branco, uma conspiração que usa táticas de desestabilização do governo para derrubá-lo sem uso de violência. Artigo de 2020 de Marsteintredet e Malamud, que mapeou a frequência de golpes e o uso do termo na academia desde 1804, concluiu que quando golpes tornam-se mais raros, em 1990, os termos adjetivados, como golpe branco, passam a ser mais usados.

Os autores alertam para os riscos desse alargamento conceitual. Tratar mudanças legais de governo como golpes pode ser usado por forças à direita e à esquerda para invalidar transformações políticas legítimas.

No caso de Dilma, nem mesmo a tese de golpe branco faz sentido, já que seu próprio governo foi o responsável por desestabilizá-lo, com uma política econômica intervencionista que causou grave recessão e desemprego. Em agosto de 2015, sua taxa de reprovação era de 71%.

Crise econômica gera crise política que dá brecha ao impeachment, cujo processo seguiu os ritos legais, com amplo direito à defesa. Foi supervisionado pelo então presidente do STF, Ricardo Lewandowski, que agora acaba de ser indicado por Lula para o Ministério da Justiça.

A narrativa de golpe, seja lá de qual cor, é, portanto, um escárnio que apenas mentes distorcidas por ideologia conseguem acatar.

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