Manuela Cantuária

Roteirista e escritora, é criadora da série 'As Seguidoras' e trabalha com desenvolvimento de projetos audiovisuais

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Manuela Cantuária

Quanto pior, melhor

Uma crise estética hoje afeta inúmeras formas de expressão artística

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Uma releitura da bandeira do Brasil, estampada com um olho humano, que deixa escapar uma lágrima. A obra de autor desconhecido começou a ser difundida nas redes sociais em 2013, muitas vezes acompanhada pelo ambíguo subtítulo “luto pelo Brasil”. 

Qualquer brasileiro com acesso à internet teve a sua retina levemente arranhada pelo “olho patriota”. A ilustração foi o prenúncio de uma crise estética que hoje afeta inúmeras formas de expressão artística.

No campo das artes plásticas, destacam-se instalações infláveis como o icônico pato da Fiesp, o Pixuleco e o Super Moro. 

Manequim usando boné com a estampa "Bolsonaro Presidente", óculos escuros modelo juliet, blusa com padronagem militar e saia com estampa de bandeira do Brasil. No fundo, há uma foto do emblema do Partido Aliança pelo Brasil feito com projéteis de arma de fogo
Silvis/Folhapress

Entre as performances, a coreografia encenada em um flash mob pró-Bolsonaro em Fortaleza, no período das eleições, deixou seu legado de eterno constrangimento. 

Falando em legado, o autor do funk “Proibidão do Bolsonaro”, MC Reaça, pode não estar mais entre nós, mas sua música segue perpetuando a misoginia que ele praticou em vida.

Já o setor audiovisual sentiu o impacto da atuação do deputado do PSDB Alexandre Frota, que recentemente publicou uma série de vídeos vestido de palhaço e ameaçando opositores. Não é o Coringa que o Brasil precisa, mas o Coringa que o Brasil merece agora. 

Quando o assunto é design gráfico, impossível ignorar a substituição do Photoshop —um dos softwares mais utilizados para manipulação de imagens digitais— pelo Paint Brush do Windows 95 —uma ferramenta mais arcaica, perfeita para ilustrar o amadorismo e os retrocessos do atual governo. 

O boom das camisas da CBF e o figurino de Zé Carioca adotado por Luciano Hang não deixam dúvidas de que a indústria da moda também foi influenciada. Vi, com meus próprios olhos, um manequim em Copacabana usando um top com estampa militar e uma bandeira do Brasil enrolada em volta da cintura como se fosse uma minissaia. 

Mas nada simboliza essa crise estética com mais precisão do que o mural de projéteis do partido Aliança pelo Brasil. 

Os painéis feitos com cartuchos de munição de armas de alto calibre estão em alta.

O presidente da República, Jair Bolsonaro, e o governador do estado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, já foram retratados com essa técnica, que alude à necropolítica praticada por ambos. 

Um partido que escolheu o número 38, o mesmo de um revólver, não poderia ser melhor representado. Seu logo de projéteis é um ataque à democracia, à população brasileira e às nossas retinas, que nunca estiveram tão vulneráveis.

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