“Eu convoquei vocês aqui porque a situação chegou ao limite. A extrema esquerda se apropriou das manifestações populares. Temo que esse seja o fim do mandato do presidente. O tenente Oliveira vai dar para a gente um panorama da gravidade da situação.”
“A Praça dos Três Poderes já está toda tomada. Nossos homens perderam o acesso ao Palácio da Alvorada e o pior aconteceu.”
“Invadiram o Planalto?”
“Não, mas cercaram o pavimento com uma extensa ciranda e agora estamos de mãos atadas.”
“Mas e a Operação Bala de Borracha?”
“Foi abortada. Distribuíram flores entre os policiais, ficou todo mundo rendido lá, cheirando seus raminhos de lavanda. Dizem que é bom para o estresse.”
“Não é possível. Eu mandei o capitão Fernandes pessoalmente cuidar dessa ação. Aliás, cadê ele?”
“O capitão Fernandes, infelizmente, não resistiu.”
“Mataram o Fernandes?!”
“Não. Mas ele foi interceptado por um grupo de extremistas radicais que estavam fazendo um BlocAto nas adjacências. E agora está no meio deles, cantando paródias politizadas de marchinhas e usando saia de maracatu.”
“Maracatu?! Meu Deus. Que saudade dos black blocs. Garotada boa, que não se metia com folclore regional, era só chamar um vidraceiro e o problema estava resolvido. Bom. Alguma novidade dos paisanas?”
“Eles reportaram que, ao contrário do que a mídia esquerdista nos quer fazer acreditar, vários setores sociais estão presentes, incluindo ex-eleitores do presidente que, nas próximas eleições estão ameaçando optar pelo… voto nulo”.
“Socorro. Quer dizer. Calma. Me coloca na linha com um de nossos homens, eu quero entender essa história direito.”
“Não dá, já cortaram a comunicação faz tempo. Quer dizer, o cabo Menezes até me mandou uma mensagem agora no Whatsapp, mas... era um textão do Tico Santa Cruz. Vou encaminhar para o senhor.”
“Deixa eu ler, às vezes tem algo criptografado no meio. Hm. Interessante. O Tico tem um ponto. Digo, vários. Impossível defender o presidente a essa altura do campeonato, o escândalo da Covaxin foi o fim da picada. Estamos muito vulneráveis. Se a Letícia Sabatella der um peteleco ou recitar mais um
poema no IGTV, receio que...”
“Coronel, me dá aqui esse celular…”
“Ok, deixa eu só tuitar um negócio aqui antes. Hashtag. Fora. Bolsonaro. Pronto. Onde estávamos?”
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