Manuela Cantuária

Roteirista e escritora, é criadora da série 'As Seguidoras' e trabalha com desenvolvimento de projetos audiovisuais

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Manuela Cantuária

Quem tem medo do lobo mau?

Ninguém escolhe ser vítima de uma relação abusiva

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O tema da coluna de hoje não é exatamente um passeio no bosque: relações tóxicas. Mas antes precisamos impor um limite saudável —um termo inexistente nesse tipo de relacionamento. Relação abusiva e relação tóxica não são a mesma coisa.

Ninguém escolhe ser vítima de uma relação abusiva. Ela se dá por um abuso de poder, um abuso da fragilidade do outro. O polo abusador da relação pode usar de violência, física ou psicológica, para controlar sua vítima. Esse controle também pode se dar financeiramente. Com filhos na jogada, a coisa complica mais ainda, já que eles podem ser usados como barganha.

Já a relação tóxica pode ser resumida pelo ditado: quando um não quer, dois não brigam. Vejo amigos se relacionando com parceiros controladores, mesmo com meios para sair daquela situação: família e amigos presentes, estabilidade financeira, acesso a terapia.

Desenho de uma cara de lobo violenta em preto e branco com boca aberta e olhos vermelhos
Ilustração de Silvis para coluna de Manuela Cantuária de 18 de setembro de 2023 - Silvis/Folhapress

Em todos os casos que pude acompanhar, o elo supostamente fraco da relação se adaptava àquela dinâmica por vontade própria. No fundo, se sentia validado pela obsessão do parceiro, confortado pela ideia de também exercer controle sobre ele, já que suas ações despertavam reações exageradas do outro lado.

Uma relação tóxica só pode ser construída a quatro mãos. Imagino que algumas leitoras estejam pensando: alto lá, queridinha. Elas podem até dizer: "me apaixonei e, quando me dei conta, era tarde demais". Também pensava assim quando caí nesse buraco. Hoje tenho uma teoria mais crível do que a ideia de que existem por aí pessoas manipuladoras a ponto de nos transformar em bonecas de pano.

Se a toxicidade de um parceiro transborda feito um acidente nuclear e o afeto sobrevive como uma barata em meio à extrema insalubridade, há algo que nos atrai nesse cenário apocalíptico. Ou teríamos fugido com todos os sintomas de uma desilusão: a urgência de comer um pote inteiro de sorvete de biscoito ouvindo Mariah Carey.

Não há nada mais libertador do que se despir do papel de vítima e desvendar as armadilhas internas que nos levaram ao fundo do poço. Carências, vaidades, inseguranças, que fazem a gente entregar o controle nas mãos de alguém. Não é sobre passar pano pra babaca; nem sobre se culpar, e sim se responsabilizar. Uma relação tóxica não é normal, mas é normal, em certos momentos da vida, nos tornarmos presas fáceis… de nós mesmas.

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