Mara Gama

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Descrição de chapéu desmatamento

Economia circular ganha força com classificação europeia

Inclusão como objetivo ambiental pelo Parlamento Europeu e compromisso público de grandes empresas mostram avanço do movimento que propõe práticas regenerativas

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Se no Brasil o governo não consegue nem entender que a preservação do meio ambiente é fundamental para o desenvolvimento econômico e ao menos frear o desmatamento, que avança com o garimpo ilegal, no resto do mundo há sinais importantes de que a ideia de conversão para a economia circular e suas práticas regenerativas está avançando.

A economia circular é conceituada em oposição à economia tradicional, ou linear, em que os recursos são extraídos da natureza, processados com trabalho e energia, comercializados, usados e descartados na forma de resíduos.

Na economia circular, a premissa é de que recursos naturais são finitos e que precisam ser poupados e a natureza, regenerada.

Para que isso ocorra, é necessário que o ciclo dos produtos criados seja fechado, com o reaproveitamento de materiais e substâncias componentes pós-consumo de todas as formas possíveis, de maneira que sejam reintroduzidos nas cadeias produtivas, reduzindo a extração de recursos virgens.

No dia 18 de junho, o Parlamento Europeu aprovou uma classificação baseada em seis objetivos ambientais para identificar se um investimento é sustentável. É o primeiro sistema de classificação deste tipo e com ele será possível fazer uma “lista ecológica” das atividades econômicas. E um dos seis critérios é o da conformidade com a economia circular.

O objetivo do novo sistema de classificação europeu é orientar investimentos públicos nos países do bloco que precisam atingir metas já estabelecidas nos acordos do clima, nas diretrizes contra a poluição de rios, mares e ambiente e nos compromissos internacionais em relação a resíduos.

É um avanço a favor da transparência. Se espera que com ele seja possível indicar as iniciativas que convergem para a proteção e a regeneração do meio ambiente, conferindo a elas um selo verde, e, por oposição, desincentivar negócios que são empacotados com marketing ecológico, o greenwashing, mas que não são comprometidos de fato com um futuro mais sustentável.

Por ser o primeiro sistema organizado, deve servir de referência para a discussão e a estruturação de políticas no mundo todo. Servirá para orientar o desenho de novas iniciativas.

Serão considerados verdes empresas e projetos que contribuam com ao menos um dos seis objetivos ambientais da seguinte lista e não atuem de forma a atacar os outros objetivos:

1) A mitigação das alterações climáticas;

2) A adaptação às alterações climáticas;

3) A utilização sustentável e proteção dos recursos hídricos e marinhos;

4) A transição para uma economia circular;

5) A prevenção e o controle da poluição;

6) A proteção e o restauro da biodiversidade e dos ecossistemas

No detalhamento do item referente à economia circular, o regulamento considera que uma atividade econômica contribui para a transição para uma economia circular, em prevenção, reutilização e reciclagem dos resíduos, se:

a - Utilizar mais eficientemente na produção os recursos naturais, incluindo matérias-primas obtidas de forma sustentável, de base biológica;

b - Aumentar a durabilidade, a reparabilidade, a atualização ou a reutilização dos produtos, em especial no âmbito da concepção e da fabricação;

c - Aumentar a reciclabilidade dos produtos, incluindo a reciclabilidade dos seus diferentes componentes materiais, através da substituição ou da redução da utilização de produtos e materiais não recicláveis, em especial no âmbito da concepção e da fabricação;

d - Reduzir substancialmente o teor de substâncias perigosas e substituir as substâncias que suscitam elevada preocupação nos materiais e produtos ao longo de todo o seu ciclo de vida, em conformidade com os objetivos estabelecidos no direito da União, substituindo essas substâncias por alternativas mais seguras e garantindo a rastreabilidade;

e - Prolongar a utilização de produtos, através da sua reutilização, concepção tendo em vista a longevidade, aproveitamento para outros fins, desmontagem, refabricação, atualização e reparação, e partilha de produtos;

f - Intensificar a utilização de matérias-primas secundárias e melhorar a sua qualidade, através de uma reciclagem de elevada qualidade dos resíduos;

g - Prevenir ou reduzir a produção de resíduos, notadamente a produção de resíduos no âmbito da extração de minerais e resíduos da construção e demolição de edifícios;

h - Melhorar a preparação para a reutilização e reciclagem de resíduos;

i - Aumentar o desenvolvimento das infraestruturas de gestão de resíduos necessárias para a prevenção, a preparação para reutilização e a reciclagem, assegurando simultaneamente que os materiais recuperados daí resultantes sejam reciclados como matérias-primas secundárias de elevada qualidade destinadas à produção, evitando assim a conversão em produtos de qualidade inferior (downcycling);

j - Minimizar a incineração de resíduos e evitar a eliminação de resíduos, incluindo a sua deposição em aterro, de acordo com os princípios da hierarquia dos resíduos;

k - Evitar e reduzir o lixo; ou

l - Potencializar qualquer uma das atividades enumeradas nos itens anteriores.Além dessa taxonomia dos investimentos sustentáveis, no dia 13 de junho, um anúncio publicado no Financial Times foi assinado por CEOs de algumas das maiores empresas do mundo e administradores públicos reafirmando compromisso com a transição para a economia circular.

Coca-cola, Pepsico, Unilever, Nestlé, Veolia, Danone, Renault, H& M, L’Óreal e Amcor são algumas das empresas signatárias. Representantes da França, Holanda e das cidades de Londres e São Paulo também assinaram a peça, junto com a Fundação Ellen Macarthur.

Os signatários afirmaram que estão empenhados em acelerar a transição com soluções para plásticos, moda, alimentos e finanças. “Ao eliminar resíduos desde o princípio, manter produtos e materiais em uso e regenerar sistemas naturais, essa abordagem cria oportunidades necessárias de crescimento econômico que também restauram o meio ambiente, geram emprego e proporcionam benefícios à sociedade”, diz o anúncio.

O compromisso das empresas aponta diretrizes para cada cadeia produtiva:

Plásticos: eliminar aqueles que não sejam necessários, promover inovação em materiais e modelos de negócio e circular todos os plásticos mantendo-os na economia e fora do meio ambiente.

Moda: garantir que as roupas sejam usadas mais vezes, possam ser transformadas em novas peças e sejam feitas a partir de materiais seguros e renováveis.

Alimentos: redesenhar produtos e cadeias de suprimento a fim de regenerar a natureza, eliminar o conceito de resíduo e conectar a produção ao consumo local onde fizer sentido.

​Finanças: apoiar empresas em sua transição para modelos de negócio circulares e mobilizar capital para avançar no desenvolvimento de soluções de economia circular.

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