Marcelo Damato

Marcelo Damato tem 35 anos de jornalismo. Dedica-se à cobertura do poder, no futebol e fora dele

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Descrição de chapéu Copa do Mundo 2022

O passaporte do técnico da seleção é só a ponta do iceberg

Ou a CBF reformula a formação de técnicos, ou os brasileiros ficarão cada vez mais raros nos times de elite e na seleção

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Nestas semanas que faltam para a escolha do novo treinador da seleção, a discussão é sobre o novo candidato a messias, se aquele que será santificado ou apedrejado em julho de 2026 será um nacional ou estrangeiro.

Quase todo o Brasil pede um estrangeiro, contra a posição dos treinadores nacionais —que nem têm um nome. A situação é um reflexo da falta de qualidade que se encontra aqui.

Desde o quarteto Parreira, Muricy, Felipão e Luxemburgo, o Brasil só teve Tite como técnico de ponta. Os demais, ou já estão queimados ou ainda nem têm currículo para mostrar. Os três últimos brasileiros campeões da Libertadores foram rejeitados por seus próprios torcedores em 2022.

Tite, ex-técnico da seleção, durante as quartas de final da Copa do Qatar, quando o Brasil foi eliminado do torneio pela Croácia
Tite, ex-técnico da seleção, durante as quartas de final da Copa do Qatar, quando o Brasil foi eliminado do torneio pela Croácia - Suhaib Salem - 9.dez.22/Reuters

E o período atual não é uma novidade. Por décadas, pessoas sem experiência viraram técnicos, por amizade com o presidente ou popularidade na mídia. O hoje consagrado Zagallo assumiu a seleção que seria tri em 1970 com 38 anos de idade e três de carreira. Mal fazia um ano que Cláudio Coutinho assumira a carreira de treinador quando foi para a seleção, em 1978. Jornalistas viraram treinadores da noite para o dia. Em 1990, o Corinthians pôs como técnico um ex-lutador de boxe.

Enquanto houve espaço no campo para os melhores jogadores brilharem individualmente, os técnicos brasileiros sobreviveram. Os dez anos que antecederam o penta foram uma espécie de canto de cisne.

Conforme o tempo passou, e os espaços em campo se encurtaram, a diferença de formação ficou evidente até o ponto de os melhores do Brasil serem superados por europeus novatos, medianos e medíocres, e até por argentinos e uruguaios.

Abel Ferreira tinha sete anos como técnico na Europa, sem títulos oficiais, quando foi chamado pelo Palmeiras. Aqui virou uma espécie de Midas.

A continuar nesse caminho, em pouco tempo os brasileiros serão raridade no comando dos clubes da Série A.

E é aí que a CBF precisa intervir. A entidade não serve apenas para assinar contratos e escolher os técnicos das seleções. Sua função principal é desenvolver o futebol nacional.

Nos últimos anos, a entidade passou a dar cursos e exigir certificados de candidatos a técnicos. O efeito tem sido quase nulo. É preciso reformular o curso, com a ajuda de especialistas do exterior, e oferecer bolsas aos melhores alunos para estagiar em clubes da Europa.

O curso precisa até resolver deficiências escolares dos candidatos. Não é mais possível treinadores que não se mantenham em atualização constante.

E, a menos que tenha se instalado uma trituradora de dinheiro na sede da CBF, há recursos de sobra para isso.

Como comparação, a federação inglesa, nos últimos 20 anos, refez a formação de todos os técnicos do país, incluindo categoria de base e escolinhas, além de ajudar a reformar todos os gramados onde garotos praticam o esporte.

Não adianta ressuscitar Cruyff e colocá-lo na seleção se ele só tiver estrangeiros com quem dialogar. Um dos papéis de um estrangeiro na seleção será liderar o debate sobre o jogo.

É preciso mudar o clima do futebol praticado aqui. É preciso aumentar a busca por excelência, o espírito de competitividade.

Se nada for feito, em janeiro se escolherá apenas a pessoa que ficará se preparando para as pedras depois da Copa de 2026.

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