Marcelo Leite

Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira” (ed. Fósforo)

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Descrição de chapéu Tragédia em Brumadinho

Brumadinho soa sinal de alerta para Bolsonaro e sua cruzada antiambiental

O retrocesso que pretende impor pode prejudicar a imagem de produtos de exportação do país

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Culpar o governo de Jair Bolsonaro (PSL) pela tragédia de Brumadinho seria injusto. Com menos de um mês no poder, ele e seu ministério não teriam como prever nem prevenir um desastre dessa proporção dantesca.

As prováveis centenas de mortes, contudo, lançam uma enorme obrigação moral em suas costas. Com quatro anos pela frente, há tempo suficiente para resolver de uma vez por todas a inacreditável incompetência dos setores privado e público para dar segurança às populações vizinhas de empreendimentos minerários.

Em lugar de tuitar como se não houvesse amanhã, o presidente e a prole hiperativa (quando não enrolada) deveriam dedicar muita atenção ao problema. Inspirem-se no exemplo de Michel Temer (MDB), que pouco ou nada fez para evitar que o derramamento em Mariana se repetisse.

Temer, a seu modo, também poderia alegar que o mandato caído em seu colo teria sido curto demais para resolver qualquer coisa. Seria mentira, claro. Ele foi durante anos o vice de Dilma Rousseff (PT), aquela ministra de Minas e Energia, depois chefe da Casa Civil, que pôs Marina Silva (Rede) para fora do governo Lula. 

Após chegar ao Planalto, Temer, o arquiteto do impeachment, continuou descendo a ladeira ensaboada pelos ruralistas do Congresso. A agenda deles, ninguém se engane com a ladainha “agro é tech, agro é tudo”, é tornar o licenciamento ambiental inócuo, congelar o reconhecimento de terras indígenas e obter perdão para suas dívidas. 

Bolsonaro se elegeu prometendo mais que isso. Para aplacar o ressentimento de pescador autuado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama), planejava emasculá-lo. Chamou para dentro do palácio a fina flor do ruralismo, com Ricardo Salles no Meio Ambiente e Tereza Cristina na Agricultura.

Não contente com isso, sacou do Ministério da Justiça a Fundação Nacional do Índio (Funai) e a fatiou, entregando os pedaços para fundamentalistas da estirpe de Luiz Antonio Nabhan Garcia e Damares Alves. Uma maneira pouco sutil de sinalizar que pretende cumprir a promessa de nenhum centímetro mais de terras indígenas.

Um ruralista pode reclamar que sua turma nada tem a ver com mineração. É meia verdade. Não faltam empresários e executivos, nos setores agropecuário, mineral e energético, interessados como eles em menos regulamentação e nenhuma fiscalização.

Aqui chegamos: Bento Rodrigues e o córrego do Feijão inundados por rejeitos. Frutos de um desenvolvimento esquizofrênico, que soma o enrijecimento da legislação ambiental, após a Constituição de 1988, com burocratização, obstrucionismo e subfinanciamento dos órgãos —não só os federais— encarregados de aplicá-la.

Bolsonaro que fique esperto. Assim como põe em risco relações diplomáticas tecidas pacientemente pelo Itamaraty ao se agachar diante dos EUA e cantar de galo com a China, o retrocesso que pretende impor ao controle ambiental acabará, mais dia menos dia, por prejudicar a imagem de produtos brasileiros de exportação.

Só o Brasil e alguns poucos países, como Venezuela, Filipinas e Estados Unidos, caminham para trás. O restante do mundo, não. Tomara o estrondo de lodo e luto em Mariana e Brumadinho lhe sirva como toque de alvorada.

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