Marcelo Leite

Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira” (ed. Fósforo)

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Estudo liga uso diário de maconha forte com psicoses

Artigo na revista médica Lancet comparou 2.138 pessoas na Europa e no Brasil

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O clima político no Brasil dos Bolsonaros não favorece o debate sobre legalização da maconha, que avança em vários países, menos ainda sobre as recomendações médicas do uso recreativo e a regulamentação correspondente, que se deveriam discutir em seguida.
 
Não falta, contudo, produção científica relevante para isso. Um estudo pioneiro indica, por exemplo, que fumar todos os dias maconha com alto teor de THC (tetraidrocanabinol), como skunk, não seria recomendável, pois parece aumentar o risco de psicose.

Plantações de maconha no Líbano
Plantações de maconha no Líbano - Diogo Bercito/Folhapress


 
O trabalho saiu terça-feira (19) na revista médica The Lancet. A maioria dos 2.629 participantes foi recrutada em 11 localidades de 5 países europeus, mas havia também 494 moradores de Ribeirão Preto (Paulo Rossi Menezes, da Faculdade de Medicina da USP na cidade paulista, é um dos autores).
 
Excluídos os casos em que faltaram informações, sobraram 2.138 na amostra, assim divididos: 901 pacientes admitidos com primeiro episódio psicótico e 1.237 pessoas saudáveis, para comparação dos padrões de uso de cannabis.
 
Conclusão geral: tanto o hábito de fumar diariamente quanto o de usar maconha com alto teor de THC (maior que 10%), em separado, eram mais frequentes entre os psicóticos (29,5% e 37,1%, respectivamente, contra 6,8% e 19,4% no grupo de controle).
 
O estudo não aponta a maconha como causa da psicose, note bem, mas uma correlação forte. É possível que a cannabis favoreça o surgimento de psicoses, mas também é possível que psicóticos tenham maior inclinação para fumá-la —​ou ambas as coisas.
 
Presumindo que haja causalidade, calculou-se quanto cairia a incidência de psicose em cada lugar na eventualidade de skunk e quejandos desaparecerem do mercado. O resultado mais impressionante veio de Amsterdã: 50% de redução esperada, de 37,9 para 18,8 novos casos anuais por 100 mil pessoas. Na liberada cidade holandesa, vende-se maconha com até 67% de THC.
 
Em Londres, 94% da cannabis nas ruas é skunk, com teor médio de THC de 14%. Ali a queda ficaria em 30%, de 45,7 para 31,9 casos novos por 100 mil pessoas por ano.
 
Já em Ribeirão Preto, onde apenas 3,6% dos psicóticos relataram ter acesso a maconha de alto teor, o desaparecimento da variedade ensejaria uma redução na incidência inferior a 2%.
 
Isso tudo, repita-se, se a relação de causa e efeito for de fato comprovada. O elo entre maconha e psicose ainda é controverso entre pesquisadores. Mesmo que assim permaneça por mais tempo, parece sensato que uma eventual regulamentação da maconha liberada dificulte o acesso ao produto de alto teor ou limite a quantidade máxima de THC.
 
O uso diário também está correlacionado com incidência mais alta de psicoses, algo que decerto precisará ser objeto de campanhas de informação, dirigidas sobretudo para adolescentes. Use com moderação, como se diz do álcool —​uma droga que causa danos pessoais e sociais muito mais graves e nem por isso está proibida.

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