Marcia Castro

Professora de demografia e chefe do Departamento de Saúde Global e População da Escola de Saúde Pública de Harvard.

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Usinas a carvão, não!

Baixa eficiência e potencial excesso de mortalidade devido à exposição a partículas são motivos para substituir essa fonte energética

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Um estudo publicado dia 23 de novembro na revista Science ressalta a importância da redução do uso de carvão mineral como fonte de energia. O estudo mostra que as partículas finas inaláveis (MP2,5) emitidas pelas usinas termelétricas a carvão mineral contém dióxido de enxofre e, portanto, tem maior toxicidade do que as emissões de outras fontes de energia.

Como consequência, a mortalidade associada à exposição a partículas MP2,5 emitidas pelas usinas a carvão é 2,1 vezes maior do que a exposição a partículas de todas as outras fontes.

Vista da Usina Termelétrica Presidente Médici Candiota III, em Candiota, no interior de Porto Alegre (RS). - Danilo Verpa - 13.dez.21/Folhapress

A análise foi feita com dados dos Estados Unidos entre os anos de 1999 e 2020. O estudo ressalta que, de todas as mortes relacionadas a emissões de partículas MP2,5, um quarto das mortes antes de 2009 foram devidas à emissão das usinas a carvão e apenas 7% após 2012, período em que houve fechamento de algumas usinas e instalação de purificadores em outras.

Esses resultados não só quantificam o efeito negativo das usinas termelétricas a carvão mineral, como também a mitigação desse efeito através de medidas de redução das emissões.

Ou seja, são resultados importantes para informar decisões políticas sobre fontes de energia, e deveriam pautar discussões na 28ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP28) que começou no último dia 30 e deve se encerrar em 12 de dezembro.

No ano em que pela primeira vez o planeta teve um dia com média de temperatura 2,07 °C acima dos níveis pré-industriais, a COP28 acontece em Dubai, presidida pelo presidente da Empresa Nacional de Petróleo de Abu Dhabi (Adnoc), sem a participação dos presidentes da China e dos Estados Unidos, os dois países que mais emitem gases de efeito estufa.

Parece o jogo dos sete erros.

Globalmente, cerca de 36% da energia produzida tem como origem o carvão mineral. Na China esse valor é de 61%.

A estimativa é que o uso global do carvão continue a aumentar até se estabilizar em torno de 2025. Portanto, é esperado um excesso de mortalidade nos próximos anos devido à exposição a partículas emitidas pelas usinas a carvão.

Uma publicação da revista Lancet no mês passado estima que, em 2020, dentre as mortes causadas por exposição a partículas emitidas por combustíveis poluentes, o percentual devido a emissão das usinas de carvão era 36,7% na Ásia e 5% na América do Sul.

No Brasil, o carvão mineral corresponde a menos de 5% da matriz energética. O 3º Inventário de Emissões em Termelétricas, lançado em outubro, mostra que entre 2021 e 2022 houve uma retração de 14,8% do acionamento de usinas a carvão mineral.

O inventário analisa a geração de energia elétrica em 72 usinas termelétricas que disponibilizaram energia ao Sistema Interligado Nacional. Em 2022, as quatro usinas que mais emitiram gases de efeito estufa eram usinas a carvão mineral, todas localizadas na região Sul.

Dois municípios, Capivari de Baixo (em Santa Catarina) e Candiota (no Rio Grande do Sul), ambos sedes de usinas a carvão mineral, respondem por 20% e 19% das emissões, respectivamente.

A baixa eficiência energética das usinas a carvão mineral (em média, apenas 32% da energia liberada pelo carvão é convertida em eletricidade) e o potencial excesso de mortalidade devido à exposição às partículas emitidas por essas usinas são motivos mais do que suficientes para progressivamente substituir essa fonte energética por outra que seja renovável.

Entretanto, um dos projetos de lei da "pauta verde" (PL 1.1247/2018) aprovado no último dia 29 na Câmara dos Deputados inclui dispositivos que permitirão a contratação de usinas a carvão mineral. Cabe ao Senado evitar esse retrocesso.

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