Há quem diga que a vida imita a arte —ou será a arte que imita a vida? Em obras de ficção, já nos acostumamos a ler que “qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência”. Aqui, não trataremos de arte, mas sim do BBB, em analogia aos condomínios Brasil afora, concluindo que tudo não é mera coincidência.
O finado e ilustre desembargador e professor Sylvio Capanema disse que “assembleia de condomínio é o único lugar em que o Capeta não se faz representar, vai pessoalmente”.
No BBB 21, o apresentador Tiago Leifert conduz o jogo da discórdia, uma lavação de roupa suja semanal entre os participantes, com dinâmicas para fomentar o que chama de “fogo na parquinho”.
De forma natural, o genial apresentador apelidou a tal dinâmica de reunião de condomínio. E, toda segunda, ao incitar os participantes, ele apregoa: “Vamos iniciar nossa reunião de condomínio”. Como num passe de mágica, é a senha para o início das ofensas, intrigas, covardias, conluios e também muitos debates relevantes. Ora, é uma verdadeira reunião de condomínio.
É incrível, mas a arte imitou a vida e não foi mera coincidência! Reunião de condomínio, como já é sabido, costuma ser ambiente hostil, com acirramento de ânimos: uma verdadeira fogueira das vaidades, com egos exacerbados, ânimos alterados e uma espécie de licença momentânea para ataques, difamações, ilações e agressões.
Tudo isso é paradoxal, pois deveria ser um momento de debates saudáveis, união de esforços, cooperação... Não posso generalizar, pois ainda há muitos condomínios onde a paz e a civilidade reinam. No BBB, a convivência forçada durará no máximo cem dias. Nos prédios, após o “fogo no salão de festas”, os participantes subirão juntos nos elevadores, seus filhos e netos brincarão e crescerão juntos e o convívio será por uma vida inteira...
No BBB, as tais reuniões são lotadas, pois a participação é obrigatória. Nos condomínios da vida real, muitos moradores têm tanto trauma das baixarias que os encontros estão cada vez mais vazios.
Com a pandemia, as reuniões passaram para o ambiente virtual e já temos alguns resultados importantes: reuniões mais cheias, debates mais civilizados e o surgimento dos leões de teclado, que escrevem tratados ou fazem discursos que não teriam coragem de fazer pessoalmente, torrando a paciência dos vizinhos.
As reuniões e assembleias são necessárias, essenciais e obrigatórias: o grande desafio é que elas possam ocorrer de forma organizada, produtiva, com respeito e cordialidade.
Sinceramente, há quase 30 anos trabalhando com condomínios, ainda não consegui desvendar o fenômeno. Daria uma bela tese acerca da natureza humana e seu comportamento em grupo. Deixo aqui os desafios aos psicólogos.
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